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Publicações / Ecopolítica

Novos Conceitos de Armas de Destruição em Massa
Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho - Maio/2003

Queimadas e Desmatamentos, SARS, Armas Químicas, Ambição sem Limites, Nosso Padrão de Produção, Armas Biológicas, Nosso Padrão de Consumo, Bombas Atômicas. A Insensibilidade para com as Nossas Enormes Desigualdades, Mísseis Continentais, Nosso Padrão de Exploração da Natureza, AIDS, etc, etc, etc. Somos capazes de tudo isso?

A Guerra do Iraque está despertando uma série de questões que devem ser debatidos. Primeiramente, quais os verdadeiros motivos para se desencadear uma guerra? Agressão, injustiça, interesses, ameaça. Os motivos mais alegados tanto à esquerda quanto à direita da questão são:

Agressão – 11 de Setembro
Injustiça – as atrocidades e preconceitos que um governo faz com seu povo em nome de um regime ditatorial;
Interesses: Petróleo
Ameaça: Apoio ao Terrorismo Internacional; Produção de Armas de Destruição em Massa.

Um interesse não muito alegado, mas de fundamental importância é á ÁGUA. O Iraque tem a maior quantidade de água potável da região conferido pelos rios Tigre e Eufrates.

Parece cada vez mais claro no discurso americano que as qualificações de agressão e ameaça têm sido mais relevantes na medida quando ferem seus interesses da maior potencia do mundo. As injustiças que o regime iraquiano executaram contra grupos religiosos atualmente destacados, não representam o verdadeiro motivo, pois se assim fosse ações já teriam acontecido na década dos 80, quando os americanos estavam mais para aliados do que para inimigos. A questão só vem à tona na esteira da “ameaça ao American Way of Life” provocado pela ameaça ao regular suprimento de petróleo.

Nosso tema é Armas de Destruição em Massa, que foi depois de 11 de setembro a razão mais alegada para a guerra. O Iraque deveria eliminar todas as “suas armas de destruição em massa existentes em solo iraquiano”. Estamos diante de uma questão interessante: “Ninguém pode ter Armas de Destruição em Massa ou apenas aqueles paises que forem autorizados pelos Estados Unidos? Que valores democráticos são esses onde um pais decide o que é bom e o que não é em nome de todos os demais 95% da população mundial?

Outra questão é: O que é Arma de Destruição em Massa? Do ponto de vista bélico, significam armas capazes de matar grandes contingentes populacionais. São aceitas dentro desses grupos Armas Químicas, Armas Biológicas e Armas Nucleares. Todas elas são capazes de gerar enormes tragédias não apenas como decorrência do impacto imediato da explosão, mas também conseqüências de longo prazo incontroláveis.

O que podemos valorizar como importantes nos objetivos destas armas? As mortes humanas imediatas? As mortes e seqüelas futuras decorrentes da permanência dos componentes radioativos, químicos ou nucleares na atmosfera?

Vamos colocar, por enquanto, apenas o ser humano dentro da discussão. Não vamos dessa forma considerar ainda os processos de destruição em massa da biodiversidade. Poderíamos citar os trágicos impactos ambientais que se sucederiam, mas certamente que algumas potências hegemônicas não estão preocupadas, nem consideram destruição em massa a destruição de florestas e de sua biodiversidade (Quantas espécimes de animais e de nossa flora já foram extintas ou estão ameaçadas de extinção?).

Partindo da compreensão bélica inicialmente colocada, cabe argüir sobre o que é relevante para se determinar quais fatores de mortandade em massa? A enorme capacidade de matar? A forma brutal como elas matam e deixam seqüelas. Ou será que o importante não é o fato de serem armas que mataram centenas ou milhões de pessoas, mas o fato de sermos por vários meios atualmente capazes de matar centenas ou milhões de pessoas por outros métodos que não via armas de destruição.

Será que apenas essas armas de destruição são capazes de executar genocídios? Se o que importa é a matança em si, temos de incluir outras causas capazes de matar grandes contingentes populacionais. Poderíamos citar uma série de “armas de destruição em massa”, mas temos de reconhecer que todas essas armas são sub produto de uma grande arma, uma grande bomba que precisa ser desarmada, o mais rápido possível: “o padrão econômico dos desenvolvidos, que os países em desenvolvimento insistem em copiar”.

Não resta dúvida que tudo o que estamos vendo visa a manter um padrão de vida impossível de ser sustentado: o maior país do mundo tem 4,5% da população viva na Terra e 1/3 do Produto Interno Bruto Mundial. Do outro lado, temos mais de 1,5 bilhão de pessoas em estado de fome absoluta por falta de comida e água. Como palco deste “tolerado” genocídio, pela fome e sede, temos um sistema econômico, muito pouco ecológico, alicerçado por uma cultura tecnológica geradora de racionalização de custos diretos de produção, geradora de conforto para ‘todos” e capaz de validar sistemas produtivos absurdamente excludentes, não somente, não geradora de emprego, como também eliminadora de empregos.

Quando falamos em um sistema muito pouco ecológico falamos de um sistema capaz de destruir recursos naturais, sem se preocupar com a enorme biodiversidade nele existente. Vivemos no século XX um verdadeiro período de destruição em massa de animais e viveremos neste século XXI outro ciclo de destruição em massa agora de seres humanos, se algo não for feito para mudar nosso padrão de tolerância para conviver com nossas enormes desigualdades sociais e de relacionamento com o meio ambiente.

Não estamos nem permitindo que o ciclo natural da vida - criação( nascimento), manutenção( vida), renovação( morte) – aconteça de forma natural, pois a taxa de natalidade está caindo de forma impressionante seja pela decisão crescente de não ter filhos, como pela quantidade de abortos de filhos não desejados. Quer dizer: “poucos querem viver muito, muitos não conseguem viver mais do que um pouco e postergamos cada vez mais o direito de outros nascerem por interesses profissionais e sociais, quando não tiramos-lhe a vida antes de nascer.

Nosso sistema econômico, independente de ideologia, é capaz de conviver de forma indiferente com os mecanismos de exclusão em massa, transferindo para “outros mecanismos”, nem sempre organizados, o "apoio ou ajuda” às populações subdesenvolvidas e excluídas.

A questão é realmente preocupante. Podemos colocar em dúvida se a questão de ter armas de destruição em massa representa o verdadeiro determinante da Guerra do Iraque, sem querer defender o Sr. Saddam Hussein, absolutamente. Parece me que esta Guerra significa na verdade uma guerra pelo controle da segunda reserva mundial de petróleo e a maior reserva de água doce do Oriente Médio. Esta guerra parece significar na verdade a garantia de manutenção deste padrão de produção e consumo desigual e desumano, pois impede aqueles 1,5 bilhão(a caminho dos dois bilhões em 2010) de criarem acesso a comida, água e condições de habitação e saúde minimamente aceitáveis.

Chegamos a uma situação onde o sistema de equações exige que demonstremos que padrões de produção altamente consumidores de recursos naturais e padrões de renda e consumo altamente desiguais podem conviver lado a lado durante muito tempo. Se não houver um forte processo redistributivo de renda, acompanhado de uma profunda reavaliação do que devemos produzir e consumir, será impossível dar possibilidade de criação de condições mínimas de alimentação e água para mais de 20% da população mundial.

Se “Bio” significa Ser vivo e “cídio” refere-se a retirar a vida, talvez este seja um verdadeiro quadro de “biocídio” criado pelas armas mais letais que se conhece: falta de comida e de água para todos os seres humanos e animais devido ao nosso insustentável padrão de consumo que, não apenas é capaz de matar ou excluir populações inteiras por fome e sede, mas também extinguir animais, plantas, devastar florestas, destruir montanhas para extrair recursos minerais, destruir ecossistemas completos, poluir e destruir a camada atmosférica e interferir de forma egoísta e artificial no ciclo natural da vida.

Que tal darmos uma chance para as armas naturais de construção baseadas na tolerância, na igualdade de oportunidades, no amor e no respeito à vida. Espero que a Guerra do Iraque não venha a nos desviar do real problema relacionado à nossa essência, à nossa maneira de ser, pensar e agir.

À nossa reflexão

Eduardo Werneck
Economista, MBA em Finanças, Analista de Mercado, Diretor do Pensamento Ecológico, Diretor do Instituto Brasileiro de Ecologia e Sustentabilidade - IBRES (em organização).

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