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Publicações / Ecoeconomia

Economias ecologicamente sustentáveis? É preciso mudar os paradigmas de vida

Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho

Small is beuatiful – E.F. Schumacher

Os fundamentos da eco-nomia tiveram profundas raízes no pensamento filosófico no século XVI e XVII, onde podemos destacar, entre outros, René Descartes, Francis Bacon e Isac Newton, como os seus principais formuladores. O famoso pensamento de Descarte restringia o existir àquele que pensava (Penso, logo existo). Aquele que não pensava não tinha vida e, portanto, podia ser destruído ou consumido, sem culpa, pelo homem.

Bacon defendia abertamente em seus pensamentos que o homem tinha que se aproveitar ao máximo da natureza, naquilo que lhe podíamos extrair em seu benefício. Quanto a Newton, devemos a ele toda a formulação matemática e física que determinou os conhecimentos sobre a teoria do equilíbrio, usada na economia, e que nos legou uma enorme dificuldade de lidar com situações de desequilíbrio e de mudanças.

Uma das primeiras correntes de pensamento econômico, a fisiocracia (primeira metade do século XVIII) dizia que: “Toda a riqueza emana da terra”. Todas as demais formas produtivas não ligadas à terra, indústria e comércio, são estéreis, em nada contribuindo para a riqueza humana. Esta talvez tenha sido também o ultimo reconhecimento do pensamento econômico quanto à importância da natureza para a construção dos valores humanos. Foi Adam Smith, e sua “mão invisível”, quem sintetizou todas essas influências filosóficas, humanistas, das ciências exatas e econômicas gerando o primeiro tratado sobre economia formalmente reconhecido como tal, “Uma investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”. Era a economia do laissez faire em contraponto ao absolutismo monárquico, onde Smith defendia que a defesa dos interesses próprios gerava satisfação e lucro para os indivíduos e isso resultava em maior bem estar e riqueza para as nações. Apesar de o título insinuar, não era prioridade de Smith em sua construção metodológica, aprofundar uma investigação sobre a Natureza sob o prisma ecológico. Preocupava-se mais com a iniciativa do individuo, a organização da produção, a divisão do trabalho e a não intervenção do Estado. Era a natureza do homem que mais lhe importava.

A partir de então, o Homem se consolidou na crença de pertencer ao topo das cadeias econômica e ecológica, tratando-as de forma distintas, estruturando e valorizando processos de exploração e produção baseados unicamente em servir à produção das “necessidades” humanas, sem nenhuma preocupação ecológica ou de preservação ambiental.

É bem interessante que as noções de valor baseavam-se na escassez de produtos e no esforço de produção. Matérias outrora abundantes ou fáceis de serem obtidas como “ar” e “água” eram considerados sem qualquer valor econômico. Evidentemente que as conseqüências não podiam ser mais nefastas para a natureza. Agora, a partir das evidências de nossas agressões ao meio ambiente, água e ar puro “entraram para o grupo dos bens economicamente preciosos”. Com o requisito da escassez atendido, a água já tem um valor financeiro que deverá crescer no tempo e já não é mais exemplo nas universidades de “bens essenciais, mas de pouco valor econômico”. O ar puro, antes abundante e também economicamente irrelevante, apesar de essencial à vida e à saúde de nossos pulmões, também se torna cada vez mais escasso. Vender máscaras de ar já é um bom negócio em muitos países. Logicamente, para investidores que enxergam o longo prazo, empresas que produzem ar puro poderão virar blue chips.

A atmosfera está cada vez mais sobrecarregada de gases que provocam o aquecimento da terra e elevação dos oceanos com riscos de vermos cidades costeiras serem invadidas pelas águas. As ilhas do Pacífico que o digam. Obrigado Nova Zelândia por aceitar acolher o povo de Tuvaru!

Estamos na iminência, nos próximos 50 anos, de esgotamento de importantes reservas minerais. Isto quer dizer que em apenas dois séculos ou 200 anos vamos conseguir acabar com o petróleo do planeta, o qual demorou alguns milhões de anos para se formar. Estes foram os resultados dos 250 anos decorridos do início da Revolução Industrial e do tratado de Adam Smith.

Vamos só citar algumas conseqüências do modelo de vida escolhido por nós seres humanos, por todos nós indistintamente, inclusive pela maioria de nós economistas, ecologistas e ambientalistas, sejam de ideologia de esquerda ou de direita.

A poluição aumentou 15%, nos últimos dez anos, apesar da Agenda 21 e das intenções do Protocolo de Kyoto e de todas as ações ambientalistas.
Os Estados Unidos, responsáveis por 1/3 das emissões recusa-se a assinar o protocolo de Kyoto. Este país tem 5% da população mundial e consome 25% dos recursos naturais, sua renda per capita é seis vezes maior do que a média mundial e com esse perfil ainda condena a distribuição de renda no Brasil. Será que o princípio da distribuição igualitária não vale para a distribuição de renda entre os países, apenas dentro dos países?

O modelo de vida que está dominando não comporta a sua universalização para toda a humanidade – seria aceitar a circulação de mais um bilhão de veículos a gasolina e a diesel; a valorização de uma estrutura alimentar baseada em produtos gordurosos e contaminados por agro tóxicos, produzidos por processos de monocultura, prejudiciais à biodiversidade; consumimos cada vez mais remédios com sérios efeitos colaterais; produzimos uma quantidade considerável de lixo e aumentar o consumo, pelos padrões atuais, seria impraticável por falta de espaço para tanto aterro sanitário e lixão.

Se atribuirmos somente à China e Índia, que somam 2,2 bilhões de habitantes, uma renda per capita, por exemplo, de US$10.000(quase um terço da renda dos americanos), o PIB anual seria da ordem de US$22,2 trilhões, mais de duas vezes o PIB americano. Será possível imaginar esses dois países pensando igual aos Estados Unidos, emitindo um nível de gases poluentes duas vezes maiores do que a dos americanos?

Se todos os países do mundo conseguissem conquistar também uma renda per capita média de US$10.000, o PIB mundial seria de US$62 trilhões, seis vezes o PIB americano. Onde haveria recursos naturais para tanto? Quantos planetas TERRA seriam necessários para atender a essa demanda mundial.
Considerando-se uma necessidade de terra para produção de alimentos, na base de dois hectares por habitante, seriam necessários 124 milhões de KM2 só para produzir alimentos. Essa área equivale a mais de 50% da soma das áreas da América do Norte, América do Sul, Europa, Antiga USSR, China e Índia. Seremos um mundo cercado por áreas de monocultura intensiva e áreas de guarda de lixo de toda a espécie. Onde moraremos?

Cabe aqui uma pergunta: Como se dará o aproveitamento dos combustíveis fósseis quando sua escassez ameaçar a saúde das economias dos países desenvolvidos? Haverá partilha justa? Não seria o caso de mudarmos a nossa matriz desde já, antes que essa ameaça de disputa possa acontecer? Não restam dúvidas de que pelo comportamento dos Estados Unidos, nos últimos anos, os países em desenvolvimento serão cerceados na disputa pelos recursos.

Tenho dúvidas, se isto já não está acontecendo, pois o desempenho de países de grande potencial como Brasil, China e Índia podem criar mudanças substantivas na terrível divisão dos recursos naturais e isso não interessa aos países do primeiro mundo, em especial aos Estados Unidos.

Os países do Terceiro Mundo devem refletir bem se o “fracasso” da Rio+10 está relacionada a uma estratégia dos países desenvolvidos de “ganhar tempo”, enquanto não dominam plenamente a nova tecnologia para energias renováveis, geração de transporte limpo e produção de alimentos orgânicos. Quando o domínio tecnológico amadurecer poderemos ser pressionados à adoção dessas novas tecnologias, pois assim permaneceremos presos ao padrão histórico de exportação de produtos de baixo valor agregado, importação de equipamentos de alto valor agregado, domínio sobre os recursos minerais estratégicos pelas nações do primeiro mundo.

A nossa sustentabilidade exige uma mudança de paradigma no pensamento econômico

É evidente, portanto, que tais padrões de produção serão impossíveis de serem obtidos, sem uma profunda revisão em nossos valores econômicos. As visões econ6omicas e ecológicas têm de começar a freqüentar as mesmas mesas de discussão. Precisamos nos repensar, levando em consideração a produção de bens sob a ótica da preservação do ambiente global e de um padrão mínimo de satisfação das necessidades essenciais para todos. Nossas estruturas de produção e hábitos de consumo desenvolvidos nos últimos duzentos e cinqüenta anos não podem ignorar que a natureza demorou centenas de milhões de anos para esculpir-se e o “arquiteto ainda não terminou sua criação”. E agimos como se tudo fosse descartável.

Quando falamos em sustentabilidade, falamos dos preceitos básicos que determinaram a criação dos seres vivos. A moderna Teoria dos Sistemas Vivos diz que uma vida auto sustentável pressupõe quatro processos básicos: criação, manutenção, renovação e diversificação. Nenhum sistema poderá sobreviver de forma auto sustentada se não levar em consideração esses princípios fundamentais: os seres vivos devem ser capazes de se criar, de se manter vivos, de se renovarem e se diversificarem. A biodiversidade é que dá a força. Quanto mais espécimes, menor o risco de extinção da vida.

A teoria econômica jamais enxergou a organização de seus preceitos científicos dessa forma. O processo continua linear e mecanicista:

Entrada - exploração de matérias primas e ainda, timidamente, reciclagem.
Processamento - transformação em produtos intermediários e finais
Saída - consumo/geração de resíduos.
Feed back de consumo para sistema produtivo: renda (não faz parte de a literatura econômica valorizar reuso e a reciclagem de produtos e materiais como importantes insumos ou fatores de produção).

Nós, como sociedade, sequer temos senso de co-responsabilidade quanto ao destino do lixo. Estamos começando a ter alguma consciência de que em cada etapa do processo econômico, existem subprodutos em sua maioria inaproveitáveis, ou que exigem providências de reaproveitamento e reciclagem.

Em um ambiente ecológico, os resíduos são inteiramente aproveitados. Em nosso ambiente econômico, isto não acontece. Vivemos ainda em um sistema unidirecional onde predominam ações destrutivas em todas as fases de exploração, transformação e consumo. Os resíduos não reaproveitados não são destruídos, mas simplesmente deixados em aterros sanitários e lixões, contribuindo para a contaminação da atmosfera. Onde está a sustentabilidade? Onde está a eficiência na alocação de fatores? Isso é referência para otimização de resultados? A natureza não planeja nada, aloca seus recursos e produz resultados bem mais eficazes. Basta considerar o principio sistêmico para a vida, onde o feed back é fundamental.

Sem feedback de comportamento em cada etapa do processo econômico, aumentamos a velocidade exploratória e destruidora. Com isso, os encargos para as gerações futuras estão se tornando crescentes. É bem possível que nossos bisnetos não nos vejam com bons olhos, pois estamos legando a eles um mundo cheio de sol, sem florestas, mais desertos, sem água, sem ar, quantidade crescente de pessoas excluídas da economia e confinadas em espaços urbanos exíguos, que favorecem a violência. Simplesmente não estamos conseguindo produzir alimentos em quantidade suficiente para mais de ¼ da população mundial. Este percentual representa hoje “apenas” 1,6 bilhões de pessoas. Daqui a cinqüenta anos serão mais de 2,5 bilhões de pessoas com fome e sem água para beber.

Precisamos modificar nossas bases de pensamento econômico e convergir para uma visão ecológica e multidisciplinar. Precisamos valorizar estudos e pesquisas relacionados à cadeia produtiva, à geração e aproveitamento dos resíduos, da água potável, da energia. Precisamos valorizar o desenvolvimento de uma ética ambiental. Precisamos estimular a integração de visões, valorizando as discussões e soluções multidisciplinares. Precisamos priorizar conceitos que introduzam processos de produção limpa, que utilizem fontes renováveis e não poluentes de energia, como o sol e o vento, e tratá-los como insumos fundamentais em nossa cadeia produtiva. Precisamos fazer muita coisa, sabemos disso, mas não fazemos.

Mas para que tudo isso possa acontecer, em vez de ambientalistas e não ambientalistas ficarem trocando acusações como se espécies diferentes fossem, o homem econômico tem de entender que o prefixo “eco” da “eco” - nomia é o mesmo da palavra “eco”- logia. O habitat é o mesmo. Vale para os ambientalistas e não ambientalistas, para economistas e ecologistas. Para brancos, pretos, amarelos e índios. Como disse o índio Chefe Seattle, respondendo ao Presidente dos Estados Unidos, interessado em comprar suas terras: “O que acontecer a Terra, acontecerá aos filhos da Terra”.
O profissional de economia tem de entender que tem um papel importante, não apenas discutindo juros, emprego, renda, consumo, impostos e investimentos, balanço de pagamentos e outras tantas variáveis importantes, sim, mas irrelevantes se não forem considerados a partir de uma visão de desenvolvimento sustentável, da formação de uma cadeia de produção e de consumo que permita o reaproveitamento integral de todos os resíduos de consumo, respeite as riquezas naturais fundamentais, “água, ar, mar, florestas, fauna e flora, minerais” , não gere excedentes de gases que a natureza e nossos pulmões, não conseguem absorver e não gere resíduos tóxicos que não temos como reaproveitar. Este é o conceito de sustentabilidade que devemos buscar. Podemos com essa mentalidade, tentar permanecer por mais alguns milhões de anos e não discutir nossas sobrevivências em mais algumas centenas de anos, com serias dúvidas de conseguirmos alcançar o quarto milênio.

A sustentabilidade macroeconômica ou a sustentabilidade microeconômica ou quantas outras formas de visão da sustentabilidade que queiramos construir, devem partir de um equilíbrio dinâmico Homem – Meio Ambiente, caso contrário, seremos fortes candidatos a dinossauros, em seu estágio final de extinção.

Estamos mudando, muito lentamente. Muitas empresas estão se orientando para esse propósito, não por causa de utopias ecológicas, mas porque estão começando a ser cobradas para buscar valores alem do lucro imediato dissociado de qualquer responsabilidade para com seu ambiente. Vejam o que diz o presidente da WWI-WorldWatch Institute: “As principais indústrias automotivas estão, todas, desenvolvendo motores de células de combustível. A Daimler Chrysler planeja iniciar a comercialização de um automóvel movido a hidrogênio, ainda nesta primeira década do século XXI. Mesmo os líderes da indústria petrolífera reconhecem que iremos finalmente sair de uma economia energética baseada no carbono para uma baseada no hidrogênio”. A British Petroleum na Inglaterra que já cumpriu suas metas voluntárias de redução de emissão de gases e continua em seu propósito de se transformar em uma matriz energética. A ESSO teve orientação para buscar oferecer alternativas energéticas limpas. Essa orientação foi aprovada em sua assembléia de acionistas, contrariando a diretoria da empresa. A 3M tem como meta desenvolver uma cadeia de processos industriais contemplando 100% de reciclagem e geração 0% de resíduos.
No Brasil, as empresas industriais estão começando a enxergar que podem auferir retorno financeiro com o aproveitamento adequado dos seus resíduos industriais. São exemplos que podemos encontrar na Klabin, CSN, Usiminas, Belgo Mineira. Todas no caminho da construção de processos de produção mais limpos, com amplo reuso de água e, venda e manejo adequado de resíduos industriais.

Para que todos os atores possam desenvolver novos papeis e de forma organizada, precisamos criar e institucionalizar mecanismos de captação e aplicação de recursos voltados para investimentos ecológicos. Como se trata de um mercado com referências ainda recentes, com poucos anos de gestação, não podemos deixar de priorizar a discussão a respeito da reformulação do sistema financeiro, que permita a democratização do acesso ao capital e não repita os erros do capitalismo selvagem dos últimos 50 anos, cujos modelos de negócios privilegiam a escala do negócio e, portanto, as grandes empresas, na remuneração do capital.

Este novo sistema financeiro deve reconhecer que novos modelos ecológicos devem abrir espaço para valorização de ações, as mais locais possíveis, onde as populações se identifiquem com iniciativas de geração de renda local, associado à preservação de seu ambiente, tal como está preconizado na Agenda 21. Tais valores são preconizados, também, no modelo BECE – Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais. Isto significa criar um arcabouço institucional onde seja possível desenvolver mecanismos de captação e gerenciamento de recursos com remuneração compatível com a capacidade de os projetos de pequeno porte gerarem renda.

Mudando nossos padrões de consumo e nossos padrões de cooperação

Para manter a teia da vida firme e saudável é preferível que sua rede seja construída por todos que nela habitem, e nesse modelo, é importante que nossos modelos econômicos priorizem ações descentralizadoras e desconcentradoras da produção, da renda e da população, ao contrário das modelos atuais, que teimam em defender a economia de escala como um processo sem limite. Os fatos estão nos mostrando o quanto é perigoso nos apoiarmos em poucas grandes empresas. Mais uma demonstração de que quantidade e diversidade são importantes. Se os modelos de investimentos preconizam a diversificação, nossos modelos de produção deveriam seguir o mesmo princípio e isso não está acontecendo. Vivemos uma febre de fusões, incorporações e aquisições. Entre os 100 maiores “países” do mundo, 29 são empresas. De fato, esta é a economia da anti-diversidade, contrariando os preceitos naturais relacionadas à evolução sistêmica da vida.

Este mesmo raciocínio vale para nossa distribuição espacial, que reflete nada mais do que nosso perfil de renda absurdamente concentrado. Não existe nada mais antiecológico do que confinar 15% da população brasileira em menos de 0,1% de seu território. Refiro simplesmente às regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo. Se considerarmos as dez maiores regiões metropolitanas, o quadro não é menos dramático: existem 31% da população brasileira morando em 0,3% de nosso território.

A economia mundial é cada vez mais universal na adoção dos fundamentos capitalistas, onde naturalmente o lucro e a competição são os seus principais combustíveis. Para que esses fundamentos capitalistas dêem resultados mais positivos no caminho da redução da exclusão social e contribuição para uma produção útil e limpa, ele deve flexibilizar certos princípios, como o de que a prioridade máxima em todo negócio é maximização dos resultados financeiros, não cabendo qualquer principio de solidariedade, quando a conjuntura assim o exigir. Competição e cooperação têm de conviver harmonicamente, sob a ameaça de a exclusão social chegar a 100%, isto é todos os homens serem excluídos da vida na Terra. Se não aprendermos a respeitá-la, ela haverá de se fazer respeitar. Já estamos começando a sentir isso.

É imperativo, portanto a convergência das visões eco-nomicas e eco-lógicas. É uma questão de tempo, não de escolha. Teremos de ser um pouco mais rápidos no caminho do aprendizado de novos valores. Não se trata de obter a prática da perfeição. Somos, de fato, imperfeitos. Mas, um “pensamento ecologicamente positivo”, por parte de todas as correntes de pensamento, já será uma grande conquista, para os próximos dez anos, pois assim estaremos nos preparando para estancar o processo destrutivo que estamos impondo à TERRA. A próxima etapa será transformar esses pensamentos em “ações ecologicamente construtivas” privilegiando processos verdadeiramente sustentáveis, onde a tecnologia seja um acessório útil, e não um fim em si próprio, sejam quais forem as conseqüências. Onde o capital seja verdadeiramente democratizado priorizando as formigas e abelhas e não apenas os elefantes e dinossauros.

A etapa derradeira será assumirmos a verdadeira transformação: abrir mão de alguns estilos de vida e confortos ecologicamente insustentáveis. Quando chega a nossa vez de se pronunciar sobre essa questão, como sociedade, resistimos a enfrentar a questão de frente e isto implica em aceitar um axioma ( “geralmente” axiomas costumam dispensar demonstrações): se não reformularmos nossos padrões de consumo, não haverá área na terra suficiente para tanta necessidade de consumo, por mais limpos que sejam nossos padrões de produção. Não resolveremos o problema da fome e da sede, que afligem a bilhões de seres humanos na Terra. Não adianta isolar ou congelar o problema. Não adianta teorias, onde o coeteris paribus abrange mais de 2 bilhões de pessoas com fome e sede.

A equação universal é simples: o que é necessário ser consumido deve ser no máximo igual ao que é possível de ser produzido. Só fica faltando resolver uma questão relacionada ao intervalo possível de compreensão do que seja necessidade de consumo, que represente diferenças naturais, em proporções que sejam moralmente sustentáveis, sem que os excluídos se sintam agredidos por demonstrações perdulárias de luxo e riqueza por parte dos países do primeiro mundo e suas elites, apoiados por uma exploração predatória de recursos finitos e um total descaso pelos países do terceiro mundo e sua pobreza.

Esse é o grande desafio. Se aceitarmos a realidade de que não cabemos todos no primeiro mundo e de que não desejamos ser rebaixados a quarto mundo. Só nos resta, então, criar um segundo mundo, ecologicamente sustentável, em que caibamos todos, já que o primeiro mundo e o terceiro mundo estão adotando padrões economicamente insustentáveis, com um fosso, entre eles, cada vez maior.

Ervin Laszio disse: “não é o mundo e sim nós mesmos, seres humanos, a causa de nossos problemas e que apenas redesenhando nosso pensamento e ação e não o mundo ao nosso redor, é que podemos solucioná-los”.

Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho – Economista, Diretor da ONG Pensamento Ecológico.

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