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Publicações / Ecoambiental / Ecoeconomia

O Céu pode Esperar
Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho (*) – Jul/2002

É interessante todo esse embroglio de política ambiental internacional que o Senhor George Bush está criando em torno do Protocolo de Kyoto. Com isso os governantes americanos ganham tempo, fazem as contas, avaliam com rigor qual o balanço de lucros e prejuízos que seus eleitores corporativos poderão ter. Tentam captar aliados para impedir o sucesso do Acordo. EUA e mais, Japão, Canadá e Austrália seriam suficientes para comprometer as intenções do Protocolo de Kyoto. Esses quatro países representam em torno de 50% do total de emissões de gases na Terra. Não é suficiente para aquele senhor (peço desculpas, mas não consigo chamá-lo de presidente) ter menos de 5% da população mundial, 1/3 do PIB mundial e serem responsáveis do 36% da poluição mundial. A natureza agradece tanta ganância, tanta ambição, poluição vindo de tão poucos indivíduos.

Quanto mais achamos suportável poluir? A Terra tem limites? Quais são nossos limites? É uma questão de se avaliar os efetivos interesses de quem produz e de quem consome e, de quem aceita como natural a permanência de uma cadeia produtiva e de consumo apoiada em processos de produção e hábitos sociais cada vez mais nefastos e poluentes para a natureza, sua fauna sua flora e para os seres humanos. “O céu pode esperar” pelas nossas decisões.

Enquanto isso, problemas como buraco na camada de ozônio, aquecimento da terra, elevação do nível dos oceanos, ameaça aos mananciais de água potável, esgotamento de reservas minerais, redução das áreas de florestas nativas, redução da biodiversidade, aumento das áreas desertificadas, o aumento do lixo urbano não reciclável ou reutilizável(poderia efetivamente encher uma página de problemas ambientais). Matamos a natureza aos pouquinhos e, como é aos pouquinhos, não percebemos ainda sua agonia, que no fundo é nossa agonia, que também não queremos perceber. Sutilmente, continuamos agindo na base da “transferência de problemas”. Para quem? É obvio que para as gerações futuras, para aqueles que ainda não chegaram na festa. Vão pagar a conta de quem saiu antes e não podem reclamar. E como também não são bobos, vão deixar a conta para a geração que lhes segue. Até quando?

Quanto tempo mais poderemos ficar discutindo problemas ambientais a qual todos sabem os resultados, se mantivermos tudo como está?... coeteris paribus como nós economistas gostamos de falar.

Quanto tempo mais poderemos postergar providências de mudanças estruturais em nosso sistema econômico de produção e de valores de consumo?

Quanto tempo mais poderemos conviver em um ambiente de exclusão crescente de população economicamente ativa em escala mundial?

Quanto tempo mais poderemos conviver com mais de um bilhão de pessoas com fome e sem água? Não estamos apenas desmatando e extinguindo espécies animais. Estamos também extinguindo a nós mesmos.

Quanto tempo mais poderemos conviver com profundas modificações em nossa biodiversidade, muitas delas irreversíveis?

Quanto mais achamos que podemos conviver com alterações climáticas crescentes, que poderão colocar em risco as condições de vida propícias ao Homem? Precisamos esperar que uma grande cidade costeira da América do Norte, União Européia ou Japão sofra de forma pesada para comecemos a enxergar de forma responsável?

Se acreditamos que podemos manter eternamente nosso sistema de vida. Se podemos, por nossos atos, ser capazes de modificar as condições atmosféricas, de alterar as condições ambientais de forma artificial, sem nenhum efeito colateral para o meio ambiente e para nós mesmos e nossos descendentes, é porque realmente estamos convencidos que o “céu pode esperar” pelas nossas decisões. Aliás, o filme produzido, com esse título, mostra bem a que ponto a arrogância humana chegou de achar tudo é controlável, inclusive a morte.

Não sei se o “céu” concorda com essa afirmação. Quando ele cansar de esperar, ele há de nos avisar. A dúvida é se dará tempo para nos adaptarmos às suas novas regras. Vida que segue enquanto a natureza nos permitir. Ela vive sem a gente. Nós é que não podemos viver sem ela. Um dia vamos aprender isso.

Só peço ao “céu” que espere um pouco mais para nos dar esse aviso, pelo menos até que o Senhor George Bush se retire. Poderemos então voltar a ter esperanças de rever um governante social e ambientalmente mais responsável nos pais mais poderoso do mundo.

Vamos ver até onde os outros 95% da população, detentores dos demais 2/3 do PIB mundial conseguirão fazer sua parte reduzindo sua participação na emissão de gases. Seria a maior lição que poderíamos dar para o “império da arrogância”.

Se reduzíssemos a existência da Terra ao tempo de vida humana, o homem está na terra há 7 segundos. A geração pós revolução industrial tem menos de meio segundo de vida.

Quanto estrago conseguimos fazer em tão pouco tempo!

Vamos consertar? O céu espera se começarmos agora.

(*) Eduardo Werneck

Economista pela UFRJ, MBA em Finanças pelo IBMEC, Analista de Mercado. Diretor da TSA Business, empresa focada em estudos quantitativos e análise de cenários para empresas em marketing e economia. Diretor da Pensamento Ecológico, uma ONG criada em abr 2001, com objetivo de difusão de informações e formação de grupos de reflexão sobre temas ecológicos e promoção de cursos de educação ambiental e saúde.

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