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Projeto Adote o Sorriso de uma Criança

Realizado em Friburgo – Rio Bonito de Baixo – RJ

Projeto Social de Prótese sobre Implante para Pacientes da Terceira Idade

Sinopse:

O Projeto tem como missão o desenvolvimento simplificado das diversas técnicas de tratamento utilizando-se implantes para suporte de próteses odontológicas sociais em pacientes idosos .

Os resultados da experiência clínica serão transformados em protocolos de tratamento que permitam maior eficiência dos procedimentos, bem como a diminuição dos custos financeiros.

As conclusões resultantes dessas atividades serão divulgadas para o público interessado, leigo ou profissional, da área de saúde através de palestras, cursos, seminários e, também, complementados por confecção de manuais ou artigos técnico-científicos para os respectivos segmentos envolvidos.

Duração do Projeto (Etapa 1): 2anos

Publicações / Ecopolítica

Novos Conceitos de Armas de Destruição em Massa
Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho - Maio/2003

Queimadas e Desmatamentos, SARS, Armas Químicas, Ambição sem Limites, Nosso Padrão de Produção, Armas Biológicas, Nosso Padrão de Consumo, Bombas Atômicas. A Insensibilidade para com as Nossas Enormes Desigualdades, Mísseis Continentais, Nosso Padrão de Exploração da Natureza, AIDS, etc, etc, etc. Somos capazes de tudo isso?

A Guerra do Iraque está despertando uma série de questões que devem ser debatidos. Primeiramente, quais os verdadeiros motivos para se desencadear uma guerra? Agressão, injustiça, interesses, ameaça. Os motivos mais alegados tanto à esquerda quanto à direita da questão são:

Agressão – 11 de Setembro
Injustiça – as atrocidades e preconceitos que um governo faz com seu povo em nome de um regime ditatorial;
Interesses: Petróleo
Ameaça: Apoio ao Terrorismo Internacional; Produção de Armas de Destruição em Massa.

Um interesse não muito alegado, mas de fundamental importância é á ÁGUA. O Iraque tem a maior quantidade de água potável da região conferido pelos rios Tigre e Eufrates.

Parece cada vez mais claro no discurso americano que as qualificações de agressão e ameaça têm sido mais relevantes na medida quando ferem seus interesses da maior potencia do mundo. As injustiças que o regime iraquiano executaram contra grupos religiosos atualmente destacados, não representam o verdadeiro motivo, pois se assim fosse ações já teriam acontecido na década dos 80, quando os americanos estavam mais para aliados do que para inimigos. A questão só vem à tona na esteira da “ameaça ao American Way of Life” provocado pela ameaça ao regular suprimento de petróleo.

Nosso tema é Armas de Destruição em Massa, que foi depois de 11 de setembro a razão mais alegada para a guerra. O Iraque deveria eliminar todas as “suas armas de destruição em massa existentes em solo iraquiano”. Estamos diante de uma questão interessante: “Ninguém pode ter Armas de Destruição em Massa ou apenas aqueles paises que forem autorizados pelos Estados Unidos? Que valores democráticos são esses onde um pais decide o que é bom e o que não é em nome de todos os demais 95% da população mundial?

Outra questão é: O que é Arma de Destruição em Massa? Do ponto de vista bélico, significam armas capazes de matar grandes contingentes populacionais. São aceitas dentro desses grupos Armas Químicas, Armas Biológicas e Armas Nucleares. Todas elas são capazes de gerar enormes tragédias não apenas como decorrência do impacto imediato da explosão, mas também conseqüências de longo prazo incontroláveis.

O que podemos valorizar como importantes nos objetivos destas armas? As mortes humanas imediatas? As mortes e seqüelas futuras decorrentes da permanência dos componentes radioativos, químicos ou nucleares na atmosfera?

Vamos colocar, por enquanto, apenas o ser humano dentro da discussão. Não vamos dessa forma considerar ainda os processos de destruição em massa da biodiversidade. Poderíamos citar os trágicos impactos ambientais que se sucederiam, mas certamente que algumas potências hegemônicas não estão preocupadas, nem consideram destruição em massa a destruição de florestas e de sua biodiversidade (Quantas espécimes de animais e de nossa flora já foram extintas ou estão ameaçadas de extinção?).

Partindo da compreensão bélica inicialmente colocada, cabe argüir sobre o que é relevante para se determinar quais fatores de mortandade em massa? A enorme capacidade de matar? A forma brutal como elas matam e deixam seqüelas. Ou será que o importante não é o fato de serem armas que mataram centenas ou milhões de pessoas, mas o fato de sermos por vários meios atualmente capazes de matar centenas ou milhões de pessoas por outros métodos que não via armas de destruição.

Será que apenas essas armas de destruição são capazes de executar genocídios? Se o que importa é a matança em si, temos de incluir outras causas capazes de matar grandes contingentes populacionais. Poderíamos citar uma série de “armas de destruição em massa”, mas temos de reconhecer que todas essas armas são sub produto de uma grande arma, uma grande bomba que precisa ser desarmada, o mais rápido possível: “o padrão econômico dos desenvolvidos, que os países em desenvolvimento insistem em copiar”.

Não resta dúvida que tudo o que estamos vendo visa a manter um padrão de vida impossível de ser sustentado: o maior país do mundo tem 4,5% da população viva na Terra e 1/3 do Produto Interno Bruto Mundial. Do outro lado, temos mais de 1,5 bilhão de pessoas em estado de fome absoluta por falta de comida e água. Como palco deste “tolerado” genocídio, pela fome e sede, temos um sistema econômico, muito pouco ecológico, alicerçado por uma cultura tecnológica geradora de racionalização de custos diretos de produção, geradora de conforto para ‘todos” e capaz de validar sistemas produtivos absurdamente excludentes, não somente, não geradora de emprego, como também eliminadora de empregos.

Quando falamos em um sistema muito pouco ecológico falamos de um sistema capaz de destruir recursos naturais, sem se preocupar com a enorme biodiversidade nele existente. Vivemos no século XX um verdadeiro período de destruição em massa de animais e viveremos neste século XXI outro ciclo de destruição em massa agora de seres humanos, se algo não for feito para mudar nosso padrão de tolerância para conviver com nossas enormes desigualdades sociais e de relacionamento com o meio ambiente.

Não estamos nem permitindo que o ciclo natural da vida - criação( nascimento), manutenção( vida), renovação( morte) – aconteça de forma natural, pois a taxa de natalidade está caindo de forma impressionante seja pela decisão crescente de não ter filhos, como pela quantidade de abortos de filhos não desejados. Quer dizer: “poucos querem viver muito, muitos não conseguem viver mais do que um pouco e postergamos cada vez mais o direito de outros nascerem por interesses profissionais e sociais, quando não tiramos-lhe a vida antes de nascer.

Nosso sistema econômico, independente de ideologia, é capaz de conviver de forma indiferente com os mecanismos de exclusão em massa, transferindo para “outros mecanismos”, nem sempre organizados, o "apoio ou ajuda” às populações subdesenvolvidas e excluídas.

A questão é realmente preocupante. Podemos colocar em dúvida se a questão de ter armas de destruição em massa representa o verdadeiro determinante da Guerra do Iraque, sem querer defender o Sr. Saddam Hussein, absolutamente. Parece me que esta Guerra significa na verdade uma guerra pelo controle da segunda reserva mundial de petróleo e a maior reserva de água doce do Oriente Médio. Esta guerra parece significar na verdade a garantia de manutenção deste padrão de produção e consumo desigual e desumano, pois impede aqueles 1,5 bilhão(a caminho dos dois bilhões em 2010) de criarem acesso a comida, água e condições de habitação e saúde minimamente aceitáveis.

Chegamos a uma situação onde o sistema de equações exige que demonstremos que padrões de produção altamente consumidores de recursos naturais e padrões de renda e consumo altamente desiguais podem conviver lado a lado durante muito tempo. Se não houver um forte processo redistributivo de renda, acompanhado de uma profunda reavaliação do que devemos produzir e consumir, será impossível dar possibilidade de criação de condições mínimas de alimentação e água para mais de 20% da população mundial.

Se “Bio” significa Ser vivo e “cídio” refere-se a retirar a vida, talvez este seja um verdadeiro quadro de “biocídio” criado pelas armas mais letais que se conhece: falta de comida e de água para todos os seres humanos e animais devido ao nosso insustentável padrão de consumo que, não apenas é capaz de matar ou excluir populações inteiras por fome e sede, mas também extinguir animais, plantas, devastar florestas, destruir montanhas para extrair recursos minerais, destruir ecossistemas completos, poluir e destruir a camada atmosférica e interferir de forma egoísta e artificial no ciclo natural da vida.

Que tal darmos uma chance para as armas naturais de construção baseadas na tolerância, na igualdade de oportunidades, no amor e no respeito à vida. Espero que a Guerra do Iraque não venha a nos desviar do real problema relacionado à nossa essência, à nossa maneira de ser, pensar e agir.

À nossa reflexão

Eduardo Werneck
Economista, MBA em Finanças, Analista de Mercado, Diretor do Pensamento Ecológico, Diretor do Instituto Brasileiro de Ecologia e Sustentabilidade - IBRES (em organização).

Publicações / Ecoeconomia

Sustentabilidade da Vida: Um eco desafio para resolvermos
Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho - Jun/2002

Os fundamentos da eco-nomia tiveram profundas raízes no pensamento filosófico no século XVI e XVII, onde podemos destacar, entre outros, René Descartes, Francis Bacon e Isaac Newton. O famoso pensamento de Descarte restringia o existir àquele que pensava (Penso, logo existo). Aquele que não pensava não tinha vida e, portanto, podia ser destruído ou consumido, sem culpa, pelo homem. Bacon defendia abertamente em seus pensamentos que o homem tinha que se aproveitar ao máximo da natureza no que lhe podíamos extrair em benefício do homem. Quanto a Newton, devemos a ele toda a formulação matemática e física que determinou os conhecimentos sobre a teoria do equilíbrio, usada na economia.

Uma das primeiras correntes de pensamento econômico, a fisiocracia (primeira metade do século XVIII) dizia que: “Toda a riqueza emana da terra”. Todas as demais formas produtivas não ligadas à terra, indústria e comércio, são estéreis, em nada contribuindo para a riqueza humana. Esta talvez tenha sido o ultimo reconhecimento do pensamento econômico quanto à importância da natureza para a construção dos valores humanos... Foi Adam Smith, e sua “mão invisível”, quem sintetizou todas essas influências filosóficas, humanistas e econômicas gerando o primeiro tratado sobre economia formalmente reconhecido como tal, “Uma investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”. Era a economia do laissez faire em contraponto ao absolutismo monárquico, onde Smith defendia que a defesa dos interesses próprios gerava satisfação e lucro para os indivíduos e isso resultava em maior bem estar e riqueza para as nações. Apesar de o título insinuar, não era prioridade de Smith em sua construção metodológica, aprofundar uma investigação sobre a natureza sob o prisma ecológico. Preocupava-se mais com a iniciativa do individuo, a organização da produção, a divisão do trabalho e a não intervenção do Estado. Era a natureza do homem que mais lhe importava.

A partir de então, o Homem se consolidou na crença de pertencer ao topo das cadeias econômica e ecológica, tratando-as de formas distintas, estruturando e valorizando processos de exploração e produção baseados unicamente em servir à produção das “necessidades” humanas, sem nenhuma preocupação ecológica ou de preservação ambiental.

É bem interessante que as noções de valor baseavam-se na escassez de produtos e no esforço de produção. Matérias outrora abundantes ou fáceis de serem obtidas como “ar” e “água” eram considerados sem qualquer valor econômico. Evidentemente que as conseqüências não podiam ser mais nefastas para a natureza: Água e ar puro entrando para o grupo dos bens economicamente preciosos. Com o requisito da escassez atendido, a água já tem um valor financeiro que deverá crescer no tempo e já não é mais exemplo nas universidades de “bens essenciais, mas de pouco valor econômico”. O ar puro, antes abundante e também economicamente irrelevante, apesar de essencial à vida e à saúde de nossos pulmões, também se torna cada vez mais escasso. A atmosfera está cada vez mais sobrecarregada de gases que provocam o aquecimento da terra e elevação dos oceanos com riscos de vermos cidades costeiras serem invadidas pelas águas. As ilhas do Pacífico que o digam. Obrigado Nova Zelândia por aceitar acolher o povo de Tuvaru.

Estamos na iminência, nos próximos 50 anos, de esgotamento de importantes reservas minerais. Isto quer dizer que em apenas dois séculos ou 200 anos vamos conseguir acabar com o petróleo do planeta, o qual demorou alguns milhões de anos para se formar. Estes foram os resultados dos 250 anos decorridos do início da Revolução Industrial e do tratado de Adam Smith.

Vamos só citar algumas conseqüências do modelo de vida escolhido por nós seres humanos, por todos nós indistintamente, inclusive pela maioria de nós ecologistas e ambientalistas ( temos de aceitar essa verdade: reclamamos mas continuamos andando de veículos a gasolina e a diesel. Os alimentos que ingerimos chegam a nós, em grande parte via, caminhões a diesel. E todos sabemos disso. Nada disso é novidade. Só não aceitamos ou, não ainda assumimos, que a solução depende de cada um de nós, sem exceção):

• A poluição aumentou 15%, nos últimos dez anos, apesar da Agenda 21 e das intenções do Protocolo de Kyoto e de todas as ações ambientalistas.

• Os Estados Unidos, responsáveis por 1/3 das emissões recusa-se a assinar o protocolo de Kyoto. Estes pais têm 5% da população mundial e consome 25% dos recursos naturais, sua renda percapita é seis vezes maior do que a média mundial( e condena a distribuição de renda no Brasil..interessante não?)

• Nosso modelo de vida não comporta a sua universalização para toda a humanidade:

• O sistema de vida desenvolvido nas economias ocidentais teve a adesão, do Japão, após a segunda grande guerra e com o fim da guerra fria os tigres asiáticos e países comunistas (países da antiga cortina de ferro, China e outros países do sudeste asiático) importaram modelos de consumo ocidentais, a partir dos anos 80.

• Se atribuirmos somente à China e Índia, que somam 2,2 bilhões de habitantes, uma renda per capita, por exemplo, de US$10000(quase um terço da renda dos americanos), o PIB anual seria da ordem de US$22,2 trilhões, mais de duas vezes o PIB americano. Será possível imaginar esses dois países pensando igual aos Estados Unidos, emitindo um nível de gases poluentes duas vezes maiores do que a dos americanos?

• Se todos os países do mundo conseguissem conquistar também renda média de US$10000, o PIB mundial seria de US$62 trilhões, seis vezes o PIB americano.

• Onde haveria recursos naturais para tanto? Quantos planetas TERRA seriam necessários para atender a essa demanda mundial.

• Considerando-se uma necessidade de terra para produção de alimentos, na base de dois hectares por habitante, seriam necessários 124 milhões de KM2 só para produzir alimentos. Essa área equivale a mais de 50% da soma das áreas da América do Norte, América do Sul, Europa, Antiga USSR, China e Índia.

• Uma pergunta final: Como se dará o aproveitamento dos combustíveis fósseis quando sua escassez ameaçar a saúde de todas as economias? Haverá partilha justa? Não seria o caso de mudarmos a nossa matriz desde já que disputas dessa natureza possam acontecer?


A nossa sustentabilidade exige uma mudança de paradigma no pensamento econômico

É evidente, portanto, que tais padrões de produção serão impossíveis de serem obtidos, sem uma profunda revisão em nossos valores eco-nomicos. Precisamos nos repensar, levando em consideração a produção de bens sob a ótica da preservação do ambiente global e de um padrão mínimo de satisfação das necessidades essenciais para todos. Nossas estruturas de produção e hábitos de consumo desenvolvidos nos últimos duzentos e cinqüenta anos não podem ignorar que a natureza demorou centenas de milhões de anos para esculpir-se e o “arquiteto ainda não terminou sua criação”.

Quando falamos em sustentabilidade, falamos dos preceitos básicos que determinaram a criação dos seres vivos. A moderna Teoria dos Sistemas Vivos diz que uma vida auto sustentável pressupõe quatro processos básicos: criação, manutenção, renovação e diversificação. Nenhum sistema poderá sobreviver de forma auto sustentada se não levar em consideração esses princípios fundamentais: os seres vivos devem ser capazes de se criar, de se manter vivos, de se renovarem e se diversificarem. A biodiversidade é que dá a força. Quanto mais espécimes, menor o risco de extinção da vida.

A teoria econômica jamais enxergou a organização de seus preceitos científicos dessa forma. O processo é vetorial: entrada/exploração de matérias primas, processamento/transformação em produtos, saída/consumo/resíduos. Em um ambiente ecológico, os resíduos são inteiramente aproveitados. Em um ambiente econômico, não. É, portanto, um sistema basicamente de ações destrutivas em suas fases de exploração, transformação e consumo. Apenas os resíduos não reaproveitados não são destruídos e deixados em aterros sanitários e lixões, contribuindo para a contaminação da atmosfera. Onde está a sustentabilidade? Onde está a eficiência na alocação de fatores?

A velocidade exploratória e destruidora de das últimas gerações estão gerando encargos crescentes para as gerações futuras. É bem possível que nossos bisnetos não nos vejam com bons olhos, pois estamos legando a eles um mundo sem florestas, mais desertos, sem água, sem ar, quantidade crescente de pessoas excluídas da economia e confinadas em espaços urbanos exíguos, que favorecem a violência. Simplesmente não estamos conseguindo produzir alimentos em quantidade suficiente para mais de ¼ da população mundial. Este percentual representa hoje “apenas” 1,6 bilhão de pessoas. Daqui a cinqüenta anos serão mais de 2,5 bilhões de pessoas com fome e sem água para beber.

Precisamos modificar nossas bases de pensamento econômico e convergir para uma visão ecológica. Precisamos valorizar estudos e pesquisas relacionados à cadeia produtiva, uso de “materiais reciclados ou reutilizados”, especialmente no que concerne à água, energia e lixo. Precisamos valorizar o desenvolvimento de uma ética ambiental. Precisamos priorizar conceitos que introduzam processos de produção limpa, que utilizem fontes renováveis e não poluentes de energia, como o sol e o vento, e tratá-los como insumos fundamentais em nossa cadeia produtiva. Precisamos fazer muita coisa e sabemos disso.

Mas para que tudo isso possa acontecer, em vez de ambientalistas e não ambientalistas ficarem trocando acusações como se espécies diferentes fossem, o homem econômico tem de entender que o prefixo “eco” da “eco” - nomia é o mesmo da palavra “eco”- logia. O habitat é o mesmo. Vale para os ambientalistas e não ambientalistas, para economistas e ecologistas. Para brancos, pretos, amarelos e índios. Como disse o Chefe Seattle, respondendo aos interesses dos Presidentes dos Estados Unidos, interessados em comprar suas terras: “O que acontecer à Terra, acontecerá aos filhos da Terra”.

O profissional de economia tem de entender que tem um papel importante, não apenas discutindo juros, emprego, renda, consumo, impostos e investimentos, balanço de pagamentos e outras tantas variáveis importantes, sim, mas irrelevantes se não forem considerados a partir de uma cadeia de produção e de consumo que permita o reaproveitamento integral de todos os resíduos de consumo, respeite as riquezas naturais fundamentais, “água, ar, mar, florestas, fauna e flora, minerais” e não gere excedentes de gases que a natureza e nossos pulmões, não conseguem absorver; não gere resíduos que não consigamos reaproveitar. Este é o conceito de sustentabilidade que devemos buscar. Podemos com essa mentalidade, tentar permanecer por mais alguns milhões de anos e não discutir nossa sobrevivência em mais algumas centenas de anos, com serias dúvidas de conseguirmos alcançar o quarto milênio.

A sustentabilidade macroeconômica ou a sustentabilidade microeconômica ou quantas outras formas de visão econômica da sustentabilidade que queiramos construir, devem partir de um equilíbrio dinâmico Homem – Meio Ambiente, caso contrário será fortes candidatos a dinossauros, em seu estágio final de extinção.

Estamos saindo do lugar, muito lentamente mas estamos. Muitas empresas estão se orientando para esse propósito, não por causa de utopias ecológicas, mas porque estão começando a ser cobrado para buscar valores alem do lucro imediato dissociado de qualquer responsabilidade para com seu ambiente. Vejam o que diz o presidente da WWI-WorldWatch Institute: “As principais indústrias automotivas estão, todas, desenvolvendo motores de células de combustível. A Daimler Chrysler planeja iniciar a comercialização de um automóvel movido a hidrogênio, ainda nesta década. Mesmo os líderes da indústria petrolífera reconhecem que iremos finalmente sair de uma economia energética baseada no carbono para uma baseada no hidrogênio”. Vejam a British Petroleum na Inglaterra que já cumpriu suas metas voluntárias de redução de emissão de gases e continua em seu propósito de se transformar em uma matriz energética. A ESSO teve orientação para buscar oferecer alternativas energéticas limpas. Essa orientação foi aprovada em sua assembléia de acionistas. A 3M tem como meta desenvolver uma cadeia de processos industriais contemplando 100% de reciclagem e geração 0% de resíduos.

Para que todos os atores, nessa nova era, possam cumprir e desenvolver papeis de forma organizada, será útil institucionalizar os mecanismos de giro de recursos voltados para aplicações ecológicas. Como se trata de um mercado ainda novo, com poucos anos de gestação. Discutir exaustivamente o desenvolvimento de regras de captação e aplicação dos recursos. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL, a Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais – BECE a formação de fundos ecológicos com regras e princípios claros de constituição e gestão.

A economia mundial é cada vez mais universal na adoção dos fundamentos capitalistas, onde naturalmente o lucro e a competição são os seus principais combustíveis. Para que os fundamentos capitalistas dêem resultados positivos de redução da exclusão social e contribuição para uma produção útil e limpa, ele deve abrir mão de certos princípios: o princípio da maximização dos resultados financeiros e o principio da não solidariedade em suas ações. Competição e cooperação têm de conviver harmonicamente, sob a ameaça de a exclusão social chegar a 100%, isto é todos os homens serem excluídos da vida na Terra. Se não aprendermos a respeitá-la ela haverá de se fazer respeitar. A natureza não abre mão de suas regras, onde competição e cooperação atuam de forma equilibrada.

É imperativo portanto a convergência entre as visões eco-nomicas e eco-lógicas. É uma questão de tempo, não de escolha. Teremos de ser um pouco mais rápidos no caminho do aprendizado de novos valores. Não se trata de obter a prática da perfeição. Somos imperfeitos mesmo. Mas, um “pensamento ecologicamente positivo” já será uma grande conquista, pois assim estaremos estancando o processo destrutivo do meio ambiente da TERRA. A próxima etapa será transformar esses pensamentos em “ações ecologicamente positivas” privilegiando processos verdadeiramente construtivos e sustentáveis, onde a tecnologia seja um acessório útil, e não um fim em si próprio, sejam quais forem as conseqüências...

Só temos a agradecer aos outrora profetas do apocalipse, aqueles ecologistas, ecólogos, ambientalistas, ativistas, seja que nome queiramos dar a eles, que souberam evoluir saindo da mera denúncia para a proposição de soluções, embasadas pela comunidade científica.

Apesar disso, a maioria não quer abrir mão do seu conforto e de seus padrões de consumo. Esse é o grande desafio.

Ervin Laszio disse: “não é o mundo e sim nós mesmos, seres humanos, a causa de nossos problemas e que apenas redesenhando nosso pensamento e ação e não o mundo ao nosso redor, é que podemos solucioná-los”.

Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho – Economista, Diretor da ONG Pensamento Ecológico.

Publicações / Ecoeconomia

Economias ecologicamente sustentáveis? É preciso mudar os paradigmas de vida

Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho

Small is beuatiful – E.F. Schumacher

Os fundamentos da eco-nomia tiveram profundas raízes no pensamento filosófico no século XVI e XVII, onde podemos destacar, entre outros, René Descartes, Francis Bacon e Isac Newton, como os seus principais formuladores. O famoso pensamento de Descarte restringia o existir àquele que pensava (Penso, logo existo). Aquele que não pensava não tinha vida e, portanto, podia ser destruído ou consumido, sem culpa, pelo homem.

Bacon defendia abertamente em seus pensamentos que o homem tinha que se aproveitar ao máximo da natureza, naquilo que lhe podíamos extrair em seu benefício. Quanto a Newton, devemos a ele toda a formulação matemática e física que determinou os conhecimentos sobre a teoria do equilíbrio, usada na economia, e que nos legou uma enorme dificuldade de lidar com situações de desequilíbrio e de mudanças.

Uma das primeiras correntes de pensamento econômico, a fisiocracia (primeira metade do século XVIII) dizia que: “Toda a riqueza emana da terra”. Todas as demais formas produtivas não ligadas à terra, indústria e comércio, são estéreis, em nada contribuindo para a riqueza humana. Esta talvez tenha sido também o ultimo reconhecimento do pensamento econômico quanto à importância da natureza para a construção dos valores humanos. Foi Adam Smith, e sua “mão invisível”, quem sintetizou todas essas influências filosóficas, humanistas, das ciências exatas e econômicas gerando o primeiro tratado sobre economia formalmente reconhecido como tal, “Uma investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”. Era a economia do laissez faire em contraponto ao absolutismo monárquico, onde Smith defendia que a defesa dos interesses próprios gerava satisfação e lucro para os indivíduos e isso resultava em maior bem estar e riqueza para as nações. Apesar de o título insinuar, não era prioridade de Smith em sua construção metodológica, aprofundar uma investigação sobre a Natureza sob o prisma ecológico. Preocupava-se mais com a iniciativa do individuo, a organização da produção, a divisão do trabalho e a não intervenção do Estado. Era a natureza do homem que mais lhe importava.

A partir de então, o Homem se consolidou na crença de pertencer ao topo das cadeias econômica e ecológica, tratando-as de forma distintas, estruturando e valorizando processos de exploração e produção baseados unicamente em servir à produção das “necessidades” humanas, sem nenhuma preocupação ecológica ou de preservação ambiental.

É bem interessante que as noções de valor baseavam-se na escassez de produtos e no esforço de produção. Matérias outrora abundantes ou fáceis de serem obtidas como “ar” e “água” eram considerados sem qualquer valor econômico. Evidentemente que as conseqüências não podiam ser mais nefastas para a natureza. Agora, a partir das evidências de nossas agressões ao meio ambiente, água e ar puro “entraram para o grupo dos bens economicamente preciosos”. Com o requisito da escassez atendido, a água já tem um valor financeiro que deverá crescer no tempo e já não é mais exemplo nas universidades de “bens essenciais, mas de pouco valor econômico”. O ar puro, antes abundante e também economicamente irrelevante, apesar de essencial à vida e à saúde de nossos pulmões, também se torna cada vez mais escasso. Vender máscaras de ar já é um bom negócio em muitos países. Logicamente, para investidores que enxergam o longo prazo, empresas que produzem ar puro poderão virar blue chips.

A atmosfera está cada vez mais sobrecarregada de gases que provocam o aquecimento da terra e elevação dos oceanos com riscos de vermos cidades costeiras serem invadidas pelas águas. As ilhas do Pacífico que o digam. Obrigado Nova Zelândia por aceitar acolher o povo de Tuvaru!

Estamos na iminência, nos próximos 50 anos, de esgotamento de importantes reservas minerais. Isto quer dizer que em apenas dois séculos ou 200 anos vamos conseguir acabar com o petróleo do planeta, o qual demorou alguns milhões de anos para se formar. Estes foram os resultados dos 250 anos decorridos do início da Revolução Industrial e do tratado de Adam Smith.

Vamos só citar algumas conseqüências do modelo de vida escolhido por nós seres humanos, por todos nós indistintamente, inclusive pela maioria de nós economistas, ecologistas e ambientalistas, sejam de ideologia de esquerda ou de direita.

A poluição aumentou 15%, nos últimos dez anos, apesar da Agenda 21 e das intenções do Protocolo de Kyoto e de todas as ações ambientalistas.
Os Estados Unidos, responsáveis por 1/3 das emissões recusa-se a assinar o protocolo de Kyoto. Este país tem 5% da população mundial e consome 25% dos recursos naturais, sua renda per capita é seis vezes maior do que a média mundial e com esse perfil ainda condena a distribuição de renda no Brasil. Será que o princípio da distribuição igualitária não vale para a distribuição de renda entre os países, apenas dentro dos países?

O modelo de vida que está dominando não comporta a sua universalização para toda a humanidade – seria aceitar a circulação de mais um bilhão de veículos a gasolina e a diesel; a valorização de uma estrutura alimentar baseada em produtos gordurosos e contaminados por agro tóxicos, produzidos por processos de monocultura, prejudiciais à biodiversidade; consumimos cada vez mais remédios com sérios efeitos colaterais; produzimos uma quantidade considerável de lixo e aumentar o consumo, pelos padrões atuais, seria impraticável por falta de espaço para tanto aterro sanitário e lixão.

Se atribuirmos somente à China e Índia, que somam 2,2 bilhões de habitantes, uma renda per capita, por exemplo, de US$10.000(quase um terço da renda dos americanos), o PIB anual seria da ordem de US$22,2 trilhões, mais de duas vezes o PIB americano. Será possível imaginar esses dois países pensando igual aos Estados Unidos, emitindo um nível de gases poluentes duas vezes maiores do que a dos americanos?

Se todos os países do mundo conseguissem conquistar também uma renda per capita média de US$10.000, o PIB mundial seria de US$62 trilhões, seis vezes o PIB americano. Onde haveria recursos naturais para tanto? Quantos planetas TERRA seriam necessários para atender a essa demanda mundial.
Considerando-se uma necessidade de terra para produção de alimentos, na base de dois hectares por habitante, seriam necessários 124 milhões de KM2 só para produzir alimentos. Essa área equivale a mais de 50% da soma das áreas da América do Norte, América do Sul, Europa, Antiga USSR, China e Índia. Seremos um mundo cercado por áreas de monocultura intensiva e áreas de guarda de lixo de toda a espécie. Onde moraremos?

Cabe aqui uma pergunta: Como se dará o aproveitamento dos combustíveis fósseis quando sua escassez ameaçar a saúde das economias dos países desenvolvidos? Haverá partilha justa? Não seria o caso de mudarmos a nossa matriz desde já, antes que essa ameaça de disputa possa acontecer? Não restam dúvidas de que pelo comportamento dos Estados Unidos, nos últimos anos, os países em desenvolvimento serão cerceados na disputa pelos recursos.

Tenho dúvidas, se isto já não está acontecendo, pois o desempenho de países de grande potencial como Brasil, China e Índia podem criar mudanças substantivas na terrível divisão dos recursos naturais e isso não interessa aos países do primeiro mundo, em especial aos Estados Unidos.

Os países do Terceiro Mundo devem refletir bem se o “fracasso” da Rio+10 está relacionada a uma estratégia dos países desenvolvidos de “ganhar tempo”, enquanto não dominam plenamente a nova tecnologia para energias renováveis, geração de transporte limpo e produção de alimentos orgânicos. Quando o domínio tecnológico amadurecer poderemos ser pressionados à adoção dessas novas tecnologias, pois assim permaneceremos presos ao padrão histórico de exportação de produtos de baixo valor agregado, importação de equipamentos de alto valor agregado, domínio sobre os recursos minerais estratégicos pelas nações do primeiro mundo.

A nossa sustentabilidade exige uma mudança de paradigma no pensamento econômico

É evidente, portanto, que tais padrões de produção serão impossíveis de serem obtidos, sem uma profunda revisão em nossos valores econômicos. As visões econ6omicas e ecológicas têm de começar a freqüentar as mesmas mesas de discussão. Precisamos nos repensar, levando em consideração a produção de bens sob a ótica da preservação do ambiente global e de um padrão mínimo de satisfação das necessidades essenciais para todos. Nossas estruturas de produção e hábitos de consumo desenvolvidos nos últimos duzentos e cinqüenta anos não podem ignorar que a natureza demorou centenas de milhões de anos para esculpir-se e o “arquiteto ainda não terminou sua criação”. E agimos como se tudo fosse descartável.

Quando falamos em sustentabilidade, falamos dos preceitos básicos que determinaram a criação dos seres vivos. A moderna Teoria dos Sistemas Vivos diz que uma vida auto sustentável pressupõe quatro processos básicos: criação, manutenção, renovação e diversificação. Nenhum sistema poderá sobreviver de forma auto sustentada se não levar em consideração esses princípios fundamentais: os seres vivos devem ser capazes de se criar, de se manter vivos, de se renovarem e se diversificarem. A biodiversidade é que dá a força. Quanto mais espécimes, menor o risco de extinção da vida.

A teoria econômica jamais enxergou a organização de seus preceitos científicos dessa forma. O processo continua linear e mecanicista:

Entrada - exploração de matérias primas e ainda, timidamente, reciclagem.
Processamento - transformação em produtos intermediários e finais
Saída - consumo/geração de resíduos.
Feed back de consumo para sistema produtivo: renda (não faz parte de a literatura econômica valorizar reuso e a reciclagem de produtos e materiais como importantes insumos ou fatores de produção).

Nós, como sociedade, sequer temos senso de co-responsabilidade quanto ao destino do lixo. Estamos começando a ter alguma consciência de que em cada etapa do processo econômico, existem subprodutos em sua maioria inaproveitáveis, ou que exigem providências de reaproveitamento e reciclagem.

Em um ambiente ecológico, os resíduos são inteiramente aproveitados. Em nosso ambiente econômico, isto não acontece. Vivemos ainda em um sistema unidirecional onde predominam ações destrutivas em todas as fases de exploração, transformação e consumo. Os resíduos não reaproveitados não são destruídos, mas simplesmente deixados em aterros sanitários e lixões, contribuindo para a contaminação da atmosfera. Onde está a sustentabilidade? Onde está a eficiência na alocação de fatores? Isso é referência para otimização de resultados? A natureza não planeja nada, aloca seus recursos e produz resultados bem mais eficazes. Basta considerar o principio sistêmico para a vida, onde o feed back é fundamental.

Sem feedback de comportamento em cada etapa do processo econômico, aumentamos a velocidade exploratória e destruidora. Com isso, os encargos para as gerações futuras estão se tornando crescentes. É bem possível que nossos bisnetos não nos vejam com bons olhos, pois estamos legando a eles um mundo cheio de sol, sem florestas, mais desertos, sem água, sem ar, quantidade crescente de pessoas excluídas da economia e confinadas em espaços urbanos exíguos, que favorecem a violência. Simplesmente não estamos conseguindo produzir alimentos em quantidade suficiente para mais de ¼ da população mundial. Este percentual representa hoje “apenas” 1,6 bilhões de pessoas. Daqui a cinqüenta anos serão mais de 2,5 bilhões de pessoas com fome e sem água para beber.

Precisamos modificar nossas bases de pensamento econômico e convergir para uma visão ecológica e multidisciplinar. Precisamos valorizar estudos e pesquisas relacionados à cadeia produtiva, à geração e aproveitamento dos resíduos, da água potável, da energia. Precisamos valorizar o desenvolvimento de uma ética ambiental. Precisamos estimular a integração de visões, valorizando as discussões e soluções multidisciplinares. Precisamos priorizar conceitos que introduzam processos de produção limpa, que utilizem fontes renováveis e não poluentes de energia, como o sol e o vento, e tratá-los como insumos fundamentais em nossa cadeia produtiva. Precisamos fazer muita coisa, sabemos disso, mas não fazemos.

Mas para que tudo isso possa acontecer, em vez de ambientalistas e não ambientalistas ficarem trocando acusações como se espécies diferentes fossem, o homem econômico tem de entender que o prefixo “eco” da “eco” - nomia é o mesmo da palavra “eco”- logia. O habitat é o mesmo. Vale para os ambientalistas e não ambientalistas, para economistas e ecologistas. Para brancos, pretos, amarelos e índios. Como disse o índio Chefe Seattle, respondendo ao Presidente dos Estados Unidos, interessado em comprar suas terras: “O que acontecer a Terra, acontecerá aos filhos da Terra”.
O profissional de economia tem de entender que tem um papel importante, não apenas discutindo juros, emprego, renda, consumo, impostos e investimentos, balanço de pagamentos e outras tantas variáveis importantes, sim, mas irrelevantes se não forem considerados a partir de uma visão de desenvolvimento sustentável, da formação de uma cadeia de produção e de consumo que permita o reaproveitamento integral de todos os resíduos de consumo, respeite as riquezas naturais fundamentais, “água, ar, mar, florestas, fauna e flora, minerais” , não gere excedentes de gases que a natureza e nossos pulmões, não conseguem absorver e não gere resíduos tóxicos que não temos como reaproveitar. Este é o conceito de sustentabilidade que devemos buscar. Podemos com essa mentalidade, tentar permanecer por mais alguns milhões de anos e não discutir nossas sobrevivências em mais algumas centenas de anos, com serias dúvidas de conseguirmos alcançar o quarto milênio.

A sustentabilidade macroeconômica ou a sustentabilidade microeconômica ou quantas outras formas de visão da sustentabilidade que queiramos construir, devem partir de um equilíbrio dinâmico Homem – Meio Ambiente, caso contrário, seremos fortes candidatos a dinossauros, em seu estágio final de extinção.

Estamos mudando, muito lentamente. Muitas empresas estão se orientando para esse propósito, não por causa de utopias ecológicas, mas porque estão começando a ser cobradas para buscar valores alem do lucro imediato dissociado de qualquer responsabilidade para com seu ambiente. Vejam o que diz o presidente da WWI-WorldWatch Institute: “As principais indústrias automotivas estão, todas, desenvolvendo motores de células de combustível. A Daimler Chrysler planeja iniciar a comercialização de um automóvel movido a hidrogênio, ainda nesta primeira década do século XXI. Mesmo os líderes da indústria petrolífera reconhecem que iremos finalmente sair de uma economia energética baseada no carbono para uma baseada no hidrogênio”. A British Petroleum na Inglaterra que já cumpriu suas metas voluntárias de redução de emissão de gases e continua em seu propósito de se transformar em uma matriz energética. A ESSO teve orientação para buscar oferecer alternativas energéticas limpas. Essa orientação foi aprovada em sua assembléia de acionistas, contrariando a diretoria da empresa. A 3M tem como meta desenvolver uma cadeia de processos industriais contemplando 100% de reciclagem e geração 0% de resíduos.
No Brasil, as empresas industriais estão começando a enxergar que podem auferir retorno financeiro com o aproveitamento adequado dos seus resíduos industriais. São exemplos que podemos encontrar na Klabin, CSN, Usiminas, Belgo Mineira. Todas no caminho da construção de processos de produção mais limpos, com amplo reuso de água e, venda e manejo adequado de resíduos industriais.

Para que todos os atores possam desenvolver novos papeis e de forma organizada, precisamos criar e institucionalizar mecanismos de captação e aplicação de recursos voltados para investimentos ecológicos. Como se trata de um mercado com referências ainda recentes, com poucos anos de gestação, não podemos deixar de priorizar a discussão a respeito da reformulação do sistema financeiro, que permita a democratização do acesso ao capital e não repita os erros do capitalismo selvagem dos últimos 50 anos, cujos modelos de negócios privilegiam a escala do negócio e, portanto, as grandes empresas, na remuneração do capital.

Este novo sistema financeiro deve reconhecer que novos modelos ecológicos devem abrir espaço para valorização de ações, as mais locais possíveis, onde as populações se identifiquem com iniciativas de geração de renda local, associado à preservação de seu ambiente, tal como está preconizado na Agenda 21. Tais valores são preconizados, também, no modelo BECE – Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais. Isto significa criar um arcabouço institucional onde seja possível desenvolver mecanismos de captação e gerenciamento de recursos com remuneração compatível com a capacidade de os projetos de pequeno porte gerarem renda.

Mudando nossos padrões de consumo e nossos padrões de cooperação

Para manter a teia da vida firme e saudável é preferível que sua rede seja construída por todos que nela habitem, e nesse modelo, é importante que nossos modelos econômicos priorizem ações descentralizadoras e desconcentradoras da produção, da renda e da população, ao contrário das modelos atuais, que teimam em defender a economia de escala como um processo sem limite. Os fatos estão nos mostrando o quanto é perigoso nos apoiarmos em poucas grandes empresas. Mais uma demonstração de que quantidade e diversidade são importantes. Se os modelos de investimentos preconizam a diversificação, nossos modelos de produção deveriam seguir o mesmo princípio e isso não está acontecendo. Vivemos uma febre de fusões, incorporações e aquisições. Entre os 100 maiores “países” do mundo, 29 são empresas. De fato, esta é a economia da anti-diversidade, contrariando os preceitos naturais relacionadas à evolução sistêmica da vida.

Este mesmo raciocínio vale para nossa distribuição espacial, que reflete nada mais do que nosso perfil de renda absurdamente concentrado. Não existe nada mais antiecológico do que confinar 15% da população brasileira em menos de 0,1% de seu território. Refiro simplesmente às regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo. Se considerarmos as dez maiores regiões metropolitanas, o quadro não é menos dramático: existem 31% da população brasileira morando em 0,3% de nosso território.

A economia mundial é cada vez mais universal na adoção dos fundamentos capitalistas, onde naturalmente o lucro e a competição são os seus principais combustíveis. Para que esses fundamentos capitalistas dêem resultados mais positivos no caminho da redução da exclusão social e contribuição para uma produção útil e limpa, ele deve flexibilizar certos princípios, como o de que a prioridade máxima em todo negócio é maximização dos resultados financeiros, não cabendo qualquer principio de solidariedade, quando a conjuntura assim o exigir. Competição e cooperação têm de conviver harmonicamente, sob a ameaça de a exclusão social chegar a 100%, isto é todos os homens serem excluídos da vida na Terra. Se não aprendermos a respeitá-la, ela haverá de se fazer respeitar. Já estamos começando a sentir isso.

É imperativo, portanto a convergência das visões eco-nomicas e eco-lógicas. É uma questão de tempo, não de escolha. Teremos de ser um pouco mais rápidos no caminho do aprendizado de novos valores. Não se trata de obter a prática da perfeição. Somos, de fato, imperfeitos. Mas, um “pensamento ecologicamente positivo”, por parte de todas as correntes de pensamento, já será uma grande conquista, para os próximos dez anos, pois assim estaremos nos preparando para estancar o processo destrutivo que estamos impondo à TERRA. A próxima etapa será transformar esses pensamentos em “ações ecologicamente construtivas” privilegiando processos verdadeiramente sustentáveis, onde a tecnologia seja um acessório útil, e não um fim em si próprio, sejam quais forem as conseqüências. Onde o capital seja verdadeiramente democratizado priorizando as formigas e abelhas e não apenas os elefantes e dinossauros.

A etapa derradeira será assumirmos a verdadeira transformação: abrir mão de alguns estilos de vida e confortos ecologicamente insustentáveis. Quando chega a nossa vez de se pronunciar sobre essa questão, como sociedade, resistimos a enfrentar a questão de frente e isto implica em aceitar um axioma ( “geralmente” axiomas costumam dispensar demonstrações): se não reformularmos nossos padrões de consumo, não haverá área na terra suficiente para tanta necessidade de consumo, por mais limpos que sejam nossos padrões de produção. Não resolveremos o problema da fome e da sede, que afligem a bilhões de seres humanos na Terra. Não adianta isolar ou congelar o problema. Não adianta teorias, onde o coeteris paribus abrange mais de 2 bilhões de pessoas com fome e sede.

A equação universal é simples: o que é necessário ser consumido deve ser no máximo igual ao que é possível de ser produzido. Só fica faltando resolver uma questão relacionada ao intervalo possível de compreensão do que seja necessidade de consumo, que represente diferenças naturais, em proporções que sejam moralmente sustentáveis, sem que os excluídos se sintam agredidos por demonstrações perdulárias de luxo e riqueza por parte dos países do primeiro mundo e suas elites, apoiados por uma exploração predatória de recursos finitos e um total descaso pelos países do terceiro mundo e sua pobreza.

Esse é o grande desafio. Se aceitarmos a realidade de que não cabemos todos no primeiro mundo e de que não desejamos ser rebaixados a quarto mundo. Só nos resta, então, criar um segundo mundo, ecologicamente sustentável, em que caibamos todos, já que o primeiro mundo e o terceiro mundo estão adotando padrões economicamente insustentáveis, com um fosso, entre eles, cada vez maior.

Ervin Laszio disse: “não é o mundo e sim nós mesmos, seres humanos, a causa de nossos problemas e que apenas redesenhando nosso pensamento e ação e não o mundo ao nosso redor, é que podemos solucioná-los”.

Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho – Economista, Diretor da ONG Pensamento Ecológico.

Publicações / Ecoambiental / Ecoeconomia

O Céu pode Esperar
Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho (*) – Jul/2002

É interessante todo esse embroglio de política ambiental internacional que o Senhor George Bush está criando em torno do Protocolo de Kyoto. Com isso os governantes americanos ganham tempo, fazem as contas, avaliam com rigor qual o balanço de lucros e prejuízos que seus eleitores corporativos poderão ter. Tentam captar aliados para impedir o sucesso do Acordo. EUA e mais, Japão, Canadá e Austrália seriam suficientes para comprometer as intenções do Protocolo de Kyoto. Esses quatro países representam em torno de 50% do total de emissões de gases na Terra. Não é suficiente para aquele senhor (peço desculpas, mas não consigo chamá-lo de presidente) ter menos de 5% da população mundial, 1/3 do PIB mundial e serem responsáveis do 36% da poluição mundial. A natureza agradece tanta ganância, tanta ambição, poluição vindo de tão poucos indivíduos.

Quanto mais achamos suportável poluir? A Terra tem limites? Quais são nossos limites? É uma questão de se avaliar os efetivos interesses de quem produz e de quem consome e, de quem aceita como natural a permanência de uma cadeia produtiva e de consumo apoiada em processos de produção e hábitos sociais cada vez mais nefastos e poluentes para a natureza, sua fauna sua flora e para os seres humanos. “O céu pode esperar” pelas nossas decisões.

Enquanto isso, problemas como buraco na camada de ozônio, aquecimento da terra, elevação do nível dos oceanos, ameaça aos mananciais de água potável, esgotamento de reservas minerais, redução das áreas de florestas nativas, redução da biodiversidade, aumento das áreas desertificadas, o aumento do lixo urbano não reciclável ou reutilizável(poderia efetivamente encher uma página de problemas ambientais). Matamos a natureza aos pouquinhos e, como é aos pouquinhos, não percebemos ainda sua agonia, que no fundo é nossa agonia, que também não queremos perceber. Sutilmente, continuamos agindo na base da “transferência de problemas”. Para quem? É obvio que para as gerações futuras, para aqueles que ainda não chegaram na festa. Vão pagar a conta de quem saiu antes e não podem reclamar. E como também não são bobos, vão deixar a conta para a geração que lhes segue. Até quando?

Quanto tempo mais poderemos ficar discutindo problemas ambientais a qual todos sabem os resultados, se mantivermos tudo como está?... coeteris paribus como nós economistas gostamos de falar.

Quanto tempo mais poderemos postergar providências de mudanças estruturais em nosso sistema econômico de produção e de valores de consumo?

Quanto tempo mais poderemos conviver em um ambiente de exclusão crescente de população economicamente ativa em escala mundial?

Quanto tempo mais poderemos conviver com mais de um bilhão de pessoas com fome e sem água? Não estamos apenas desmatando e extinguindo espécies animais. Estamos também extinguindo a nós mesmos.

Quanto tempo mais poderemos conviver com profundas modificações em nossa biodiversidade, muitas delas irreversíveis?

Quanto mais achamos que podemos conviver com alterações climáticas crescentes, que poderão colocar em risco as condições de vida propícias ao Homem? Precisamos esperar que uma grande cidade costeira da América do Norte, União Européia ou Japão sofra de forma pesada para comecemos a enxergar de forma responsável?

Se acreditamos que podemos manter eternamente nosso sistema de vida. Se podemos, por nossos atos, ser capazes de modificar as condições atmosféricas, de alterar as condições ambientais de forma artificial, sem nenhum efeito colateral para o meio ambiente e para nós mesmos e nossos descendentes, é porque realmente estamos convencidos que o “céu pode esperar” pelas nossas decisões. Aliás, o filme produzido, com esse título, mostra bem a que ponto a arrogância humana chegou de achar tudo é controlável, inclusive a morte.

Não sei se o “céu” concorda com essa afirmação. Quando ele cansar de esperar, ele há de nos avisar. A dúvida é se dará tempo para nos adaptarmos às suas novas regras. Vida que segue enquanto a natureza nos permitir. Ela vive sem a gente. Nós é que não podemos viver sem ela. Um dia vamos aprender isso.

Só peço ao “céu” que espere um pouco mais para nos dar esse aviso, pelo menos até que o Senhor George Bush se retire. Poderemos então voltar a ter esperanças de rever um governante social e ambientalmente mais responsável nos pais mais poderoso do mundo.

Vamos ver até onde os outros 95% da população, detentores dos demais 2/3 do PIB mundial conseguirão fazer sua parte reduzindo sua participação na emissão de gases. Seria a maior lição que poderíamos dar para o “império da arrogância”.

Se reduzíssemos a existência da Terra ao tempo de vida humana, o homem está na terra há 7 segundos. A geração pós revolução industrial tem menos de meio segundo de vida.

Quanto estrago conseguimos fazer em tão pouco tempo!

Vamos consertar? O céu espera se começarmos agora.

(*) Eduardo Werneck

Economista pela UFRJ, MBA em Finanças pelo IBMEC, Analista de Mercado. Diretor da TSA Business, empresa focada em estudos quantitativos e análise de cenários para empresas em marketing e economia. Diretor da Pensamento Ecológico, uma ONG criada em abr 2001, com objetivo de difusão de informações e formação de grupos de reflexão sobre temas ecológicos e promoção de cursos de educação ambiental e saúde.

Publicações / Ecoambiental / ecoeconomia

O Céu pode Esperar (Parte II)
Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho – Ago/2002

Sabemos da importância dos Estados Unidos para a consagração do Protocolo de Kyoto bem como reforçar, a nível mundial, a necessidade de mudança de paradigmas, em termos de implantação de uma visão ecológica mais profunda. Preocupa-me, entretanto, a posição que os defensores da Agenda 21 e do Protocolo de Kyoto tomarão em caso de fracasso na adesão mínima exigida. É compreensível que muitos países encarem sua adesão como uma medida política condicional à validação do Protocolo no âmbito internacional, principalmente pelos Estados Unidos.

O Sr. George Bush acabou de declarar que seu país só tratará desta questão em 2012, no terceiro mandato após este para o qual foi eleito, quando o presidente será outro. Incrível! Já poderemos ter “certeza” pelas suas palavras do que os próximos dois presidentes vão decidir.

Por essas razões é que não há mais como transferir a questão ambiental para o nível “País”, esperando para ver o que a “nossa atual referência EUA” fará em termos da responsabilidade ambiental. Sua visão econômica traz a questão ecológica para a superfície dos interesses dos seus principais eleitores, as empresas de energia, e consagra para os próximos dez anos, pelo menos, a predominância explícita dos interesses econômicos americanos sobre os interesses da biodiversidade mundial.

Vejam que paralelos interessantes: podemos condicionar nosso desempenho econômico à estabilidade da moeda, mas somos incapazes de condicionar o mesmo desempenho econômico à estabilidade da emissão de gases e outras práticas poluidoras. No primeiro caso, se a política de crescimento ameaçar a estabilidade inflacionária, então controle-se o crescimento. No segundo caso se a política de crescimento ameaçar a estabilidade do meio ambiente, libere-se a instabilidade ambiental e criemos defesas contra as ameaças da natureza, aumentando mais os gastos com pesquisa e assistência médica.

Todo e qualquer estrutura produtiva só se sustenta se a sociedade consumidora der a sua chancela. Pode-se tentar persuadir pela força da propaganda, mas na verdade, todos os produtos e serviços só terão seus processos de produção e interesses validados se aceitos em todo o processo da cadeia de consumo, onde sociedade consumidora é soberana nas suas decisões. O que podemos fazer? Parece simples, mas não é: “Dar preferência sempre a produtos ecologicamente mais corretos”.

Para dar suporte de informação e conhecimento à sociedade, poderíamos desenvolver um sistema internacional de rating de empresas poluentes nos moldes do que ocorre para análise de risco de crédito de empresas e países. Uma empresa rating A ou superior deveriam adotar princípios de emissão controlada de gases poluentes, de aproveitamento de resíduos produzidos durante seu processo produtivo, de incentivo ao uso de materiais recicláveis e reusáveis, de certificação ecológica de seus produtos, de atitudes de transparência e ética com seus empregados, acionistas, fornecedores, governo e comunidade.

Organizações internacionais e ONG’s poderiam criar uma convenção internacional para aplicação da obrigatoriedade de todos os produtos indicarem os efeitos colaterais criados para o meio ambiente durante todo o processo produtivo, tal qual é exigido das industrias de fumo e farmacêutica.

O poder público poderia tornar obrigatório o estudo da ecologia e de práticas de preservação ambiental nas escolas. As universidades deveriam ter também a obrigatoriedade da disciplina ecologia em todas as faculdades, não importa a especialidade.

Quando falamos das faculdades de economia, especificamente, sabemos que a ecologia está ainda distante da cultura econômica. Confesso que demorei mais de 20 anos para entender que a economia, em sendo a ciência da escassez, em sendo a ciência que trata da otimização na alocação dos fatores de produção não poderia tratar da exploração das riquezas naturais, sem um raciocínio ecológico subjacente. Confesso que demorei mais de 20 anos para entender que a ecologia deve ser definitivamente parte integrante do estudo da economia. A rigor, a economia deveria ser uma disciplina contida dentro do escopo ecológico. Isto é exatamente o inverso do nosso discurso de hoje.

Quando vemos eminentes economistas falando que o protocolo de Kyoto pode ser um remédio com efeitos mais amargos do que os efeitos colaterais do nosso modus vivendi, não podemos acreditar que afirmações como essas levem em conta preocupações com as futuras gerações. Se nestas afirmações, prevalece à lógica dos interesses produtivos dissociados dos interesses maiores da sociedade e da qualidade de vida. Então todos têm razão. Só não vamos entender que qualidade de vida é simplesmente viver mais. A industria farmacêutica agradece a demanda crescente e inelástica da população da terceira idade, vivendo cada vez mais, mas sufocada por uma atmosfera cada vez mais poluída, sem falar na cultura alimentar inadequada. Resultado: aumento do consumo de remédios.

Quando vemos um economista canadense contestar o protocolo de Kyoto, alegando que os prejuízos seriam consideráveis para a cidade de Alberta. Só podemos concluir que estamos perdendo completamente a capacidade de pensar. O que é bom para Alberta, é bom para o mundo? É esse o raciocínio lógico que aprendemos a construir? Porque Alberta não muda sua matriz de produção, incrementando a produção de equipamentos e produtos de energia solar? O problema seria resolvido: reestruture a economia de Alberta e ela contribuirá menos para a poluição do Canadá e do mundo.

Sabemos criar revoluções tecnológicas, mas temos enorme dificuldade de criar uma revolução ecológica. É uma séria limitação, sem dúvida! Parece que adotamos como preceito permanente de evolução, o desenvolvimento tecnológico. Se quisermos mudar alguma coisa, esta mudança exige um redirecionamento das prioridades de investimento em estudos e pesquisas da tecnologia para a ecologia, aprofundando pesquisas que beneficiem o restabelecimento do equilíbrio Homem-Meio Ambiente, que aperfeiçoem produtos e serviços que possam ser economicamente viáveis de serem consumidos pela sociedade, que tornem água e ar limpos.

Falar de desenvolvimento sustentável é tornar a visão ecológica um fim em si próprio. É aceitar que não podemos depender, em nossa matriz energética, do petróleo da maneira que dependemos. Não podemos desprezar o sol da maneira que desprezamos. Não podemos aceitar com tanta passividade e descaso que o terceiro milênio se consagre como a “era dos descartáveis”. Até o homem está se sentindo descartável. Será que é isso que queremos?

O Brasil não está no anexo I, não precisando, portanto, cumprir as metas estabelecidas no Protocolo de Kyoto, que ainda esperamos que aconteça (só depende do Japão). Entretanto, estamos em processo de crescimento acelerado de emissão de gases na atmosfera, mais de 35% nos últimos dez anos. Nessa velocidade, estaremos nos habilitando a integrar o grupo do anexo I em pouco tempo, ultrapassando a Alemanha, Canadá e Itália.

Temos a maior bio diversidade do mundo, a maior reserva de água doce do mundo, água subterrânea em grande quantidade, a maior floresta tropical do mundo. Só perdemos para a África em emanações de raios solares. Temos enorme capacidade de geração eólica e potencial de energia da biomassa.

O que estamos esperando para fazer a nossa parte independente de Protocolo de Kyoto? As ONG’s tem tido um papel preponderante no incentivo a praticas ecológicas e sociais, mas não podem fazer tudo sozinhas. Precisam do apoio da sociedade, através das classes empresariais, dos consumidores e demais partes interessadas.

Temos um enorme potencial de crescimento usando processos de produção limpa e quanto mais atuarmos nesta direção, maior será o nosso poder de barganha internacional e com isso aumenta nosso potencial de absorção de investimentos via “Mecanismo de Desenvolvimento Limpo” e outros mecanismos que surgirem para institucionalizar o financiamento a projetos de produção limpa.

As universidades terão sem dúvida um papel decisivo nesse campo, pois nelas germinam as discussões no campo da pesquisa e da tecnologia. Uma consciência ecológica crescente nas universidades será um sinal extremamente positivo. Melhor ainda será se essa consciência for plantada desde as escolas primárias. O céu ficará realmente estimulado a esperar.

Enquanto isso não acontece, “o céu continua perplexo” com a nossa desídia ecológica, pois ele pode nos fornecer fontes energéticas limpas as quais simplesmente não aproveitamos, por alegações menores de restrições de viabilidade econômica quando, na verdade, é falta de atitude mesmo.

O céu continua perplexo pelo pouco caso que estamos tendo com a preservação de nossas bacias hídricas, com nossas queimadas, com a nossa capacidade de agredi-lo e continuar achando-o belo.

Apesar de tudo, o céu pode esperar, mas pede que não esperemos muito para fazer a nossa parte, implementando uma ”política de estabilização macro-ecológica auto sustentada”, significando não apenas uma economia estável, com “inflação zero” e crescimento econômico auto sustentado, mas acima de tudo uma ecologia estável, com “nível de destruição zero” e organização ecológica auto sustentado, com sua biodiversidade preservada.

Em ambos os modelos, educação, alimentação e emprego para todos.

Caso o céu enxergue medidas positivas nos demais ¾ do mundo, já que não poderemos contar com os Estados Unidos, ele certamente há de esperar. O Brasil tem um papel preponderante neste processo.


Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho, Economista, Analista de Mercado, Diretor da ONG Pensamento Ecológico.

Publicações / Ecoambiental

O CÉU ESTÁ PERPLEXO
Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho – Set/2002

Às vezes chego a pensar se todas essas reuniões multilaterais não são nada mais do que oportunidade de trabalho para diplomata, que sentem prazer na eternização dos diálogos, como se a vida fosse um business game. Confúcio dizia que “na vida o que importa é o movimento, não seus resultados”. Talvez esse seja o princípio mais importante da era da civilização. Só que para os na filosofia oriental os movimentos são baseadas em fundamentos. Essa é a diferença entre orientais e ocidentais. Os primeiros preocupam-se com a fundamentação e a ação. Os ocidentais preocupam-se mais com a ação e seus resultados.

Quando não partimos de fundamentos sólidos acabamos nos perdendo nos movimentos e não conseguimos chegar a resultado algum, a não ser de continuam a prevalecer os interesses imediatistas dos detentores do poder na geopolítica internacional.

Se o homem tem prazer em discussões bizantinas sob a premissa que todas os seres orgânicos e inorgânicos estão ao seu dispor, como defendia Francis Bacon. A sensação de poder e domínio sobre tudo e todos, transcendendo a Terra. Já estamos chegando a Marte, Júpiter, Saturno. Em poucos anos, quem sabe inventamos uma tecnologia que nos permita chegar à velocidade da luz e ir assim além do sistema solar, com passageiros a bordo.

Enquanto isso, continuaremos a discutir Rio +5, Rio + 10, Rio+20, Estocolmo+30, Estocolmo+40, Johannesburg +10, Johannesburg+20, fóruns permanentes.

Em uma coisa, uma representante dos Estados Unidos tem razão, a Agenda 21 tem palavras demais comparadas às ações realizadas. Só que as poucas ações partem mais de seu país do que qualquer outro. E ainda querem condicionar ações imediatas quanto à preservação de nossa biodiversidade e florestas às suas ações na área de energias renováveis. Alegam que a Amazônia e o Matogrosso não estão no Texas e no IOWA.

É por isso que acredito que alguma coisa de bom vai acontecer nos próximos anos. Deus foi justo em não colocar a floresta amazônica nos Estados Unidos ou Europa, pois senão elas não existiriam mais. Só para lembrete, quem acabou com o Pau Brasil? Ainda não existiam brasileiros nesta época.

Devemos sim agir já para preservar nossa biodiversidade e nossas florestas e nosso clima, pois é tudo uma coisa só. A Terra é uma rede re relações, costuradas pela Teia da Vida, como chama Fritjof Capra. Não podemos colocar essas questões em termos de barganha. O caminho é um só: reconhecer a existência de um passivo ambiental e trabalhar para equilibrá-lo com ações ambientais ativas.

O céu está realmente perplexo com nossa arrogância em transformar o destino da Terra e sua rede de seres vivos e não vivos construídos em um processo de 4,5 bilhões de anos em um jogo diplomático de poder.

Continuo com sérias dúvidas quanto aos limites da paciência do céu e da terra. Até onde ela pode aguardar para nos dar uma lição que talvez custe o fim da raça humana na Terra. Se tudo isso não passa de um jogo, porque não apostamos quando acontecerá o fim do mundo? Essa pode ser uma aposta sem ganhadores, pois quando isso acontecer, os ganhadores não estarão vivos para receber o prêmio.

Se Johannesburg efetivamente fracassar, estaremos convictos de que os grandes ganhadores de todo esse processo de discussão terão sido, até agora, os segmentos de organização de eventos e empresas dos ramos lazer e turismo. Mesmo esses segmentos não se interessam por um meio ambiente em degradação. A ninguém interessa esse status quo, a não se a quem tem interesses mesquinhos. Esses grupos estão com certeza aportados em segmentos produtivos de visão pequena, onde seus interesses corporativos são mais importantes do que os interesses do ambiente onde estão inseridos.

Quanto ao Brasil, para falar a verdade, evoluímos muito. Há 25 anos, nossos generais se orgulhavam do milagre econômico brasileiro e convidavam todas as industrias mesmo que poluentes a contribuir para o seu crescimento. Temos agora uma das mais avançadas legislações ambientais do mundo. Só falta aplicar.

Os americanos têm razão, vamos agir mais e escrever menos. Que tal, eles começarem a rever seus padrões de consumo?

Eduardo Werneck, Economista da Pensamento Ecológico

Publicações / Ecoambiental / Ecoeconomia

A fome do ser humano, a fome da natureza e nossos limites de vivência
Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho (*)

Uma das prioridades do programa do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o “Programa Fome Zero”. Isto está representando colocar a questão da fome como uma prioridade em uma dimensão jamais colocada por nenhum governante ou país. Tudo o que foi feito até hoje, esteve restrito a ações de organismos paraestatais ou não governamentais, o que naturalmente tem impactos limitados, pois não é capaz de interferir nos fundamentos do problema.

Preocupa-me, todavia, que as ações anunciadas estejam apontando apenas providências unicamente econômicas relacionadas à geração de emprego e produção de alimentos.

No que se refere ao emprego, não tenho dúvidas. Esta talvez seja de fato a grande prioridade que deveria implicar na formulação de um pacto internacional de redução dos efeitos perversos que as inovações tecnológicas têm causado em termos de exclusão social. É certo que tivemos um progresso material inquestionável. Mas é certo também que a tecnologia fracassou na função de manter e criar empregos. Seu poder de destruir empregos tem sido bem maior do que criar empregos, em especial no mercado formal de trabalho. É certo também que o foco excessivo do desenvolvimento no progresso material e no conforto desviou o pensamento econômico de uma visão mais social e de bem estar.

Se nossa estrutura econômica formal permitisse empregos decentes para todos, sem dualidades (emprego formal x emprego informal). Se nossa estrutura econômica permitisse gerar empregos que significassem efetivamente bem estar social e não apenas produção ou renda: A resultante seria “Fome Zero” e Bem Estar “Cem”.

Quando falamos na questão da fome surgem algumas preocupações: atenderemos à demanda produzindo mais alimentos ou importando alimentos, tão somente? Ou faremos um esforço macro social para redução de desperdício de alimentos? Quanto de nossa natureza e de nosso meio ambiente poderá ser devastado para atender a uma necessidade justíssima que é permitir que seres humanos, enquanto vivos, possam se alimentar “adequadamente”. Quanta água será necessária para irrigar a expansão da produção, considerando-se que 70% da água doce usada no planeta é usada na agricultura.

Se quisermos tratar do tema de um modo sustentável, não podemos nem devemos resolver o problema criando outros problemas, muito sérios também, que é a devastação da natureza para produzir esses alimentos e o aumento da sede por falta de água.

Temos de prestar atenção, se em nome do Programa Fome Zero vamos resolver o problema da Fome do Ser Homem e criar fomes muito mais sérias: "Falta de Água” e a “Fome na Natureza”. Como disse, o ex-premier russo Gorbatchev, “A Natureza não Espera” e poderá dar um retorno muito mais sério, via desertificação de áreas, erosão de terras e redução da quantidade de água na Terra.

Lembremo-nos de que o entendimento de desenvolvimento sustentável vale para todos os seres vivos. Criar alimentos para todos às custas da destruição da natureza, de nossa água e de nossa biodiversidade é continuar a aceitar a premissa de Francis Bacon de que o Homem tem o direito de tirar o máximo proveito da terra e seus recursos naturais.

O Ser Humano é um dos raríssimos seres vivos cuja população cresce, sem nenhum controle natural ou ecológico, enquanto uma imensa diversidade de animais sofre ameaça de extinção e fome por falta de seus alimentos que lhes foram tirados para que pudéssemos liberar terra para produzir alimentos para os seres humanos.

Um dia, que não está longe, teremos de discutir seriamente quais são nossos limites em termos de expectativa de vida e ações humanas na terra. Um dia teremos de discutir seriamente quais são os nossos limites de sobrevivência na Terra. Não me consta que algum animal tenha conseguido ter sua expectativa de vida ampliada, na mesma proporção do ser humano, nos últimos trezentos anos. Se houver algum animal nessas condições, por favor, gostaria de ser informado, pois não sou biólogo e por isso não tenho informações precisas sobre essa questão.

A evolução quantitativa do homem de forma irrestrita significa simplesmente que precisaremos de mais alimentos de forma continuamente crescente. Teremos terra para tanto? Teremos água para tanto? Não conseguimos resolver os problemas dos que aqui estão hoje e aqui estiveram nestes últimos séculos. Com tudo isso a população não para de crescer graças à redução da taxa de mortalidade em proporções maiores do que a taxa de natalidade.

Precisamos discutir essa questão da fome junto com um enorme tabu para o Ser humano: devemos priorizar a inovação da bio tecnologia e da produção de remédios para salvar vidas ou para mantê-las vivas o tempo que a esta tecnologia e os remédios permitirem, sem importar as conseqüências para toda a nossa ecologia? Se este é o desejo do ser humano, este direito é extensível para todos os 6,2 bilhões de hoje, para os 7 bilhões de 2010. e, para os 10,5 bilhões em 2050?

Vamos matar a fome de todos os seres humanos famintos, mas que isso não signifique tornar a natureza e sua biodiversidade faminta.

Precisamos cuidar de criar condições dignas de vida para todos, entendendo que temos de nos autolimitar na Terra, aceitando o fato de que um dia de fato vamos morrer. Todos os seres vivos nascem, e morrem. Todos seguem o ciclo natural da vida. Hazel Henderson disse para Fritjof Capra que os economistas têm uma dificuldade enorme de aceitar a morte das empresas como um fato natural e necessário para que outras empresas surjam. Com certeza, ela concordará também de que não apenas os economistas, mas toda a espécie humana tem uma dificuldade enorme de aceitar a morte dos seres humanos, como fato natural para permitir que outros surjam e dêem continuidade à vida.

Não há como escapar do fato de que discutir a fome do homem é discutir também os limites da natureza e os limites de nossa vivência na terra, tal qual acontece com todos os seres vivos. Estamos chegando a um ponto em que permanecem vivos aqueles seres vivos que interessam ao ser humano para a produção de carne.

Neste ritmo de evolução de redução de mortalidade, pais e filhos poderão estar freqüentando juntos o mesmo asilo e, com fome, pois ninguém poderá sustentar, com alimentos e água, tanta gente ao mesmo tempo em que aumenta a desertificação e a erosão das terras, o desmatamento de nossas florestas, redução das fontes de água, o elemento mais essencial para a vida na Terra. Poderemos ter nossa fome saciada, mas poderemos estar, ainda neste século, morrendo de sede.

Como poderemos sustentar um sistema de vida onde o período de inatividade está ficando maior do que o período de atividade econômica. Lembremo-nos também que apesar de vivermos mais, os sistemas econômicos em vigor continuam considerando as pessoas de mais de 50 anos velhas para o trabalho, graças à exclusão provocada pela inovação tecnológica. Como vamos poder sustentar esse modelo?

Se pelo menos conseguíssemos reduzir o enorme desperdício de alimentos, que chega a mais de 30% desde o escoamento da colheita até o consumo final, estaríamos contribuindo para o problema. Estamos falando de um problema cultural, dos valores essenciais da vida. Neste quesito, a tecnologia pode nos ajudar muito pouco.

Tratar dessa questão de forma séria exigirá, urgentemente, a unificação dos fundamentos do pensamento econômico e do pensamento ecológico. O prefixo eco é o mesmo. Todas pessoas, famintas ou não, sedentas ou não, que moram na eco- nomia também moram na eco-logia. Com certeza o desperdício ecológico é praticamente zero comparado ao enorme desperdício econômico gerado no fluxo de produção e consumo criado pelo Ser Humano.

Na ecologia não existe lixo. Tudo se aproveita.

(*) Eduardo Werneck, Economista, Diretor do Pensamento Ecológico e Diretor da TSA Business especializada em Análise de Tendências, Modelagem Estatística para Negócios, Análise e Planejamento de Pesquisa de Mercado. Foi gestor de Fundos de Ações e de Fundos de Commodities na Caixa Econômica Federal.

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CIÊNCIA DO INÍCIO DA VIDA
Laura Uplinger

* Abril de 2004 - A Ciência do Início da Vida - Este artigo foi realizado a partir do curso: O PAPEL DA GESTAÇÃO NA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SOCIAL, realizado para fundar o Núcleo da PAZ, dirigido por Eleanor Madruga Luzes da ONG PENSAMENTO ECOLÓGICO. Este curso foi ministrado por Laura Uplinger com co-autoria de Eleanor Madruga Luzes, em 23 de janeiro de 2003 no auditório da Pequena Cruzada.

Há vinte e cinco anos venho estudando e trabalhando na área da concepção consciente e do desenvolvimento do bebê durante a gestação, nascimento e pós-nascimento. No início, foi o aspecto filosófico desta questão que me fascinou, e foi surpresa para mim quando em 1981 surgiu um livro intitulado “A vida secreta da criança antes de nascer”, do psiquiatra Thomas Verny, que ousou falar do psiquismo fetal. Pouco depois as ciências naturais desvendaram o sistema imune e muitos elementos de embriologia.

Meu interesse nesta área cresceu e levou-me à afiliar-me à uma organização com sede na Califórnia, que se chama “Association for Prenatal and Perinatal Psychology and Health”, (Associação para Psicologia Prenatal e Perinatal). A APPPAH é uma organização internacional multidisciplinar, e no seu site podem ser encontradas referências sobre livros, palestras, conferências, vídeos e anais de congressos sobre temas relativos à importância do psiquismo fetal e do nascimento do ser humano.

Esta organização nasceu em 1983, e o seu “embrião” está vinculado ao trabalho do psiquiatra Thomas Verny. Nascido na Tchecoslováquia, Verny atua em Toronto, no Canadá. Ele foi descobrindo ao longo de sua prática psiquiátrica, que em alguns pacientes existia uma memória do período perinatal. Na época, esta descoberta foi recebida com muito ceticismo e frieza pelos cientistas que o rodeavam, e ele então resolveu organizar um congresso com profissionais de outras cidades que haviam se deparado com a mesma hipótese. Verny conseguiu congregar umas quinhentas pessoas de diversas profissões e de vários países, (ainda que na cultura norte-americana a interdisciplinaridade seja uma idéia pouco querida, pois eles tendem a cultivar a especialização). Neste congresso, foi criada a PPPANA, (Pre-and Perinatal Psychology Association of North America), hoje APPPAH. O mundo acadêmico de Toronto não acolheu nada bem a idéia de que os nenéns não nascem, como explica a psicologia tradicional, virgens de experiência, nem uma ‘tabula rasa’. Verny chegou até a perder o direito de ensinar psiquiatria na universidade de Toronto, embora a titulação dele seja além de Ph.D, titulação rara e conseguida por pessoas de indiscutível seriedade científica. Apesar disso Verny priorizou a honestidade intelectual, e não colocou “na gaveta” esta faceta tão importante do psiquismo humano, que vem modificar o próprio referencial sobre o qual se baseia a prática da psiquiatria. A APPPAH engloba o conceito de saúde, não só no sentido do bem estar mãe-filho, mas também da saúde física e psíquica do futuro adulto.


Em 1993, organizei em Washington, DC. o sexto congresso internacional da PPPANA: “Womb Ecology - World Ecology” (Ecologia do Ventre Materno - Ecologia do Mundo). Etimologicamente, a palavra ecologia vem do grego oicos que significa habitat. O título do congresso faz alusão ao fato de que a maneira como nós somos tratados no nosso primeiro habitat, o ventre de nossa mãe, influencia imensamente a maneira como, mais tarde, nós tratamos nosso meio ambiente, o planeta Terra, que é nossa grande casa.

Desde 1995, os congressos da APPPAH vêm acontecendo a cada dois anos em São Francisco; o último realizou-se em dezembro de 2003 com o título “Birth, Brain and Bonding” (Nascimento, Cérebro e Vínculos). Nele foram explorados vários aspectos desta nova área da ciência chamada “brain science” (ciência do cérebro).

Uma origem notável da violência social foi estudada e está explicada no livro “Ghosts from the Nursery – Tracing the Roots of Violence” (Os Fantasmas do Berçário – Traçando os Caminhos da Violência), escrito pelas sociólogas Robin Karr e Meredith S. Wiley. Elas investigaram, em algumas prisões nos Estados Unidos, jovens prisioneiros que cometeram crimes sérios e foram condenados à prisão perpétua. Jovens de 18, 19 e 20 anos, e que não apresentam nenhuma psicopatologia. Pesquisando o histórico de cada um destes prisioneiros, as duas sociólogas se depararam com o fato da gestação e a pequena infância de todos eles terem sido marcadas por um stress imenso desde a concepção. Jovens capazes de agasalhar alguém com frio na rua, de dialogar amigavelmente com uma pessoa que acabaram de conhecer, mas quando algo os irrita (uma fechada de carro, o choro estridente de uma criancinha) não são capazes de processar esta irritação e querem acabar com o outro, chegando a matar, mesmo se tratando de um neném que eles nunca viram antes! A chave da compreensão biológica deste padrão de comportamento reside na formação do cérebro do ser humano. Nós temos no cérebro uma parte mais antiga, primitiva, dita reptiliana e temos o neocórtex. Quando, por exemplo, alguém nos dá uma fechada na estrada, o nível de adrenalina na nossa corrente sanguínea sobe imediatamente, pois há perigo de morte e precisamos estar em estado de alta alerta. Sentimos até vontade de xingar. Mas se este mesmo irresponsável precisa de auxílio mais adiante, somos capazes de oferecer ajuda. Nossa primeira reação, nossa irritação, não nos domina completamente, ela é processada pela parte frontal do nosso cérebro: o neocórtex. O que acontece com os seres gestados sob intenso stress? O nível de cortisona no sangue da mãe é tão alto que as vias de comunicação entre o cérebro primitivo e o cérebro mais elaborado, não se formam corretamente. Este complexo circuito de comunicação não pode ser devidamente ‘fabricado’ e ‘instalado’.

Na Suécia, o psiquiatra Bertil Jacobsen pesquisou inúmeros dados sobre suicídios de adolescentes, e encontrou uma correlação significativa entre o parto de cada um dos jovens que haviam se suicidado e a maneira que tinham escolhido para morrer. Quando o parto havia sido traumático, o adolescente havia dado um tiro na cabeça; caso houvesse tido uma importante circular de cordão, (o cordão umbilical enrolado em volta do pescoço), o jovem tinha se enforcado; muita anestesia durante o parto, suicídio por drogas... Esta pesquisa pode ser achada no site da APPPAH.

É importante notar que a geração nascida nos anos 50 foi a que mais se drogou até hoje... mas as drogas sempre existiram. O anestésico usado numa peri-dural ou numa anestesia geral, contém heroína e morfina. De certa maneira, parece lógico que os nascidos sob anestesia, recorreram mais tarde às drogas nos momentos de crise. E, nas últimas décadas, houve um brutal aumento pelo mundo inteiro, do uso de anestésicos durante o trabalho de parto.

Desde a metade do século XX, uma verdadeira cultura de eficiência profissional tomou conta da mulher. Nos Estados Unidos, a mulher que “sabe gestar” é aquela que só pára de trabalhar na última semana antes do parto... Lá, a licença-maternidade não é nem de três meses. As gestantes preferem trabalhar até os últimos dias antes do parto, para poder ficar mais tempo em casa com o neném. Se pedirem demissão do emprego para cuidar dos filhos, perdem seu status social. Manter um padrão de vida com viagens, casa grande e dois carros, parecer ser vital... Nos anos 90, em Los Angeles, tive a oportunidade de conduzir um grupo de reflexão chamado “Mommy and Me” (Mamãe e Eu). Um grupo de dez a vinte mães acompanhadas por seus nenéns que se reúnem uma vez por semana, para conversar sobre o que é ser mãe. Cada grupo reúne nenéns da mesma faixa etária. Alguns sábados, orientei o grupo das mães que tinham voltado a trabalhar. Fiquei impressionada com a honestidade destas mães; elas diziam claramente que é muito mais fácil ir trabalhar do que ficar em casa com um neném... É triste o nível de despreparo que nós mulheres temos para lidar com o universo do neném e das crianças pequenininhas. Quantas canções conhecemos de cor? Quantos contos de fadas? O que sabemos sobre o desenvolvimento físico, emocional, mental e espiritual dos nossos filhos? Algumas mães relatam que, quando estão em casa com o neném no fim de semana, chegam a ter vontade de ligar para o pediatra pedindo ajuda... A falta de convívio diário com o neném as impede de sentir-se à vontade com este ser tão exigente, e é difícil para elas entender as mensagens sutis, quase telepáticas do neném... Precisam descansar depois de uma semana de trabalho, e como explicar ao neném que elas estão sem forças para brincar?

O intercâmbio de informações nos Congressos da APPPAH é muito rico, e nestes últimos anos temos contado com a participação de cientistas que estudam a vida da célula. Os conhecimentos na área da biologia celular vêm se aprimorando, e por exemplo hoje sabemos que quando se retira o núcleo de uma célula, ela fica impossibilitada de se reproduzir, claro, mas não morre e todas as suas outras funções seguem ocorrendo. Por outro lado, se a membrana celular é retirada, e esta é por excelência um órgão de intercâmbio, a célula morre... mesmo seu núcleo estando intacto (pesquisa da universidade de Stanford). O Conselho de diretoria da APPPAH conta atualmente com a colaboração do biólogo Bruce Lipton ex-professor de Stanford. Lipton transpõe brilhantemente os novos conhecimentos sobre a biologia celular para o universo do neném em gestação. Cada célula tem dois modos de ser: ou ela cresce, se desenvolve e interage com o meio ambiente que a rodeia, ou percebendo que o “o mar não está pra’ peixe”, ela entra num “modus vivendi” de quase não vida, se retraindo, e interagindo o mínimo possível com o meio que a rodeia. Isto acontece com toda espécie de célula. Peter Nathanielsz, formado em obstetrícia e pesquisador da universidade de Cornell menciona em suas aulas e nos livros de sua autoria, que um neném gestado em condições de forte stress, nasce com peso abaixo da média mas com uma placenta anormalmente maior... A placenta é um grande órgão de intercâmbio, e a placenta de um feto gerado com muito stress, vai multiplicando seus vasos sanguíneos, vias de comunicação com o sangue da mãe, porque muitos destes vasos sanguíneos esclerosam e morrem, devido aos estragos da adrenalina (e derivados) em demasia... Nathanielz insiste que quando uma mulher está grávida, ela não está grávida sozinha: a família dela e a sociedade em que vive estão grávidas com ela.

Durante muitos anos, a ciência considerou a placenta como um órgão de proteção para o neném; tudo que acontecia com a mãe grávida era como que ‘examinado’ pela placenta e submetido a uma rigorosa triagem... Hoje se sabe que a placenta funciona não só como um órgão de transmissão mas também como um órgão de ampliação! Se uma grávida bebe um cafezinho, seu bebê recebe o equivalente de umas seis xícaras de café... já que o corpinho dele é bem menor.


O Heart Math Institute, um centro de pesquisa nos Estados Unidos que estuda essencialmente o coração, começou a publicar artigos de uns cinco anos para cá, sobre estudos que revelam que o coração envia para o cérebro mensagens hormonais. Graças a estes estudos, sabemos hoje que o coração está ‘hormonalmente’ em comunicação com o cérebro, enviando para este dados e estímulos, e não apenas dele recebendo comando.

Recomendo um livro que explica para o público em geral: “As Moléculas da Emoção” (Molecules of Emotion – de Candace B. Pert). Candace Pert foi a cientista que conseguiu descobrir o mecanismo bioquímico que torna possível o fato de meu corpo estar atento e reagir ao que eu estou pensando e sentindo. Antigamente, sabia-se que o cérebro tem a imagem de meu polegar, mas não se tinha comprovado que o inverso também é verdadeiro. No entanto, quando por exemplo, vejo algo muito belo, antes mesmo de perceber o quanto estou emocionada, brota uma lágrima nos meus olhos. Quem em mim processou esta lágrima? Quem em mim está atento à emoção que está me envolvendo, antes mesmo que eu tenha consciência dela? É claro que alguma mensagem bioquímica foi transmitida. Candace Pert passou muitas noites em branco trabalhando na famosa instituição “National Institute of Health” (NIH) em Maryland. Na sala de centrifugação, trabalhou incansavelmente com ‘xaropes’ de vários preparados orgânicos, e conseguiu isolar, principalmente em tecidos intestinais (onde é gerado o sistema imune), uma grande quantidade de moléculas, partículas de proteína que até então se pensava que só existiam no cérebro. Moléculas essas tidas como suporte bioquímico do pensamento. Pert descobriu esta substância pelo corpo inteiro, comprovando que somos seres pensantes sim, mas pensantes com todos os nossos órgãos e não só com o cérebro. Processamos pensamentos e sentimentos com nosso plexo solar, por exemplo. Sabemos hoje que todos nossos órgãos estão intimamente vinculados entre si, e se isto ocorre no organismo adulto, imagine o que ocorre num corpinho em gestação.

O cérebro de um embrião, de um feto, não se forma sozinho, ele precisa de todos os materiais que a mãe vai fornecendo ao longo da gestação. Claro que existem aspectos genéticos, e alguns até se referem a aspectos kármicos, mas o que prevalece na formação do cérebro é a quantidade e a qualidade dos nutrientes do sangue materno. Sabe-se hoje das conseqüências de uma nutrição deficiente durante a gestação, no que diz respeito, por exemplo, às dificuldades de aprendizagem que uma criança pode vir a ter. É importantíssimo que uma mãe grávida se alimente bem. E o alimento que o cérebro recebe não é só feito de calorias, sais minerais e vitaminas. Tudo o que a mãe sente, pensa, sonha e intui é veiculado hormonalmente pelo sangue. Assim a cortisona oriunda de um stress contínuo sofrido pela mãe, se torna um verdadeiro veneno; ela impede, por exemplo, a formação de um cérebro hígido. É como se construíssemos um prédio sem elevador ou escada interna que conduzisse aos últimos andares, só havendo uma escadinha externa... Se a gestante não tiver um bom nível de harmonia com ela mesma e com seu neném, este apresentará mais tarde seqüelas de “má construção”. Muitos dentre nós precisamos de anos de terapia, meditação, esforço, muito estudo e reflexão, para ultrapassar certas limitações de nosso ser que diminuem a qualidade do nosso caráter. Quem sabe, se tivéssemos nascido com um cérebro melhor formado, seriamos dotados de um melhor relacionamento com nós mesmos e com o mundo, poderíamos ser mais amorosos, mais livres, mais responsáveis, mais felizes e criativos no cotidiano.

A pré-concepção ainda é um tema tabu, um tema quase nunca mencionado no nosso mundo ocidental. Mas conheço, por exemplo, o trabalho de Carista Luminare-Rosen que mora na Califórnia, ao norte de São Francisco. Há muitos anos, ela vem organizando workshops com grupos de casais que estão pensando em ter filhos. Ela os recebe num ambiente propenso à reflexão e os estimula a pensar sobre os motivos pelos quais eles querem ser pais, o que acham que podem oferecer a um filho: que tipo de vida, que tipo de genética, que tipo de sonhos e ideais, quem são eles filosófica e materialmente falando. Um dos aspectos que ela os ajuda a enfocar é o tema de suas origens: que genealogia possuem, quantas esperanças, quantas qualidades adquiridas e concretizadas (ou não) pelos avós, bisavós e tataravôs. Trazemos no sangue e na alma a possibilidade de realizar alguns sonhos de nossos ancestrais, aqueles ideais que eles não puderam concretizar em seu tempo. Por exemplo, quanto tempo faz que a mulher pode votar e estudar, há quantas gerações podemos nos locomover com tanta facilidade pelo planeta e dispomos de tantos meios de comunicação? É importante saber de onde viemos, pois nos ajuda a poder alterar nosso rumo. Carista me confidenciou que no final de cada um destes fins de semana, ela tem o prazer de abraçar estes casais quando chega o momento da despedida, e os casais que ela abraça com mais emoção são aqueles que chegaram à conclusão de que querem um filho sim, mas agora não. Eles entendem que a complexa bagagem psíquica que trazem, ainda merece trabalho e conscientização, que é melhor esperar, para que interiormente sejam mais capazes de transmitir harmonia, entusiasmo e coragem ao ser que vão gestar. Desejam que seus filhos não venham perpetuar duras sagas familiais.

Um grupo de psicoterapeutas na Irlanda, chamado Amethyst, verificou nos “rebirthings” de seus pacientes, uma marcada analogia entre a maneira como estes foram concebidos e a maneira como atuam em suas vidas. Elas chegaram a adotar um conceito da física quântica, e explicam que a concepção é como uma onda fractal: assim como somos concebidos, somos gestados, paridos e vivemos, a menos que algo intercepte o percurso desta onda fractal.

Tive a felicidade de conceber uma filha numa comunhão consciente com meu marido. Durante a gestação, entendi que não era o momento para ser profissional do assunto, e sim mulher que se entrega ao ato de gestar. Um dia, minha filha, aos cinco anos, notou passando os olhos nas instruções de emergência de um avião, que havia uma clara omissão com relação à ajuda ao próximo: “- Mãe, tem um erro aqui: a gente não tem que ajudar todo mundo num acidente?”. Com isto exemplifico a diferença que ocorre na personalidade do indivíduo que é concebido, gestado e parido com carinho e consciência: essas crianças são naturalmente capazes de pensar solidariamente. É o cerne da mentalidade não violenta.

Saiu um artigo no jornal New York Times, logo após a primeira guerra do Golfo, sobre os primórdios da vida do Sadam Hussein. Ele foi fruto de um casal apaixonado que queria um segundo filho, mas durante a gestação a mãe perdeu o filho e o marido. O desespero desta mulher foi tal, que várias vezes ela quis se suicidar e não queria mais ter filho nenhum. A família a impediu do suicídio e do aborto. Então, ao mesmo tempo em que Sadam foi concebido com força especial, pois o foi conscientemente, sua gestação foi ‘escangalhada’ pela vida interior adoecida de sua mãe. Este homem, como sabemos, não dá muito valor à vida humana...

No meu carro, tenho um adesivo que diz “um mundo de crianças desejadas, faria um mundo de diferença” (“A world of wanted children would make a world of difference”). Quando cada concepção for um ato da vontade dos pais, poderemos em poucos anos fechar as instituições para as crianças abandonadas, as prisões, as escolas especiais. Em três gerações, poderemos eliminar deste planeta os ‘poluidores’, aqueles com ‘capacidade alterada de amar’ (adotando uma terminologia do Michel Odent), que precisam destruir e pisar no outro para se sentirem importantes.

Acrescenta-se a isto, o aspecto bioquímico da gestação. Com stress, ou sem stress, a bioquímica constitui o primeiro referencial que o ser humano tem. Se fui gerada num ambiente tenso, trágico, com muita confusão e muita briga, vou inconscientemente tentar recriar na minha corrente sanguínea a bioquímica da discórdia, da violência e da angústia quando estiver em crise, insegura e precisando de “reconforto”. Foi esta bioquímica que me gerou, com a qual fiz os meus órgãos, é onde me sinto verdadeiramente eu, e é normal que nos momentos difíceis e de incerteza eu procure me aconchegar nessa mesma “atmosfera”... Daí a importância de uma gestação com imaginação sadia, rodeada de beleza, envolta em nobreza, paz, dignidade, inteligência ética e criatividade. O ser que nasce de uma gestação verdadeiramente harmoniosa, se torna um adulto capaz de agir em qualquer situação na qual se encontre, de maneira sábia, construtiva e fraterna, mesmo tratando-se de uma situação de conflito ou de sofrimento grave.

A vivência do nosso nascimento está profundamente gravada no nosso psiquismo. Temos este dado reforçado pelas pesquisas feitas em diversos continentes - África, Austrália, Ásia e Américas - por antropólogos que colheram sangue, suor, saliva, transpiração e urina de membros de sociedade indígenas passando por um ritual de iniciação. Ou seja, situações difíceis, longas e muitas vezes dolorosas, destinadas a marcar a saída de uma condição psico-social e a entrada numa outra. Estes rituais divergem na forma, de cultura para cultura, mas em geral sempre envolvem jejum, danças, cantos e privação de sono. O fato é que algo fica para sempre marcado na vida dos indivíduos que passam por tais rituais. Foi na década de 80, que uns antropólogos examinaram essas amostras de sangue, urina, saliva, e transpiração de pessoas em rituais iniciatórios. Eles descobriram algo bastante interessante: a fórmula bioquímica presente no sangue dessas pessoas é idêntica à fórmula bioquímica presente na corrente sanguínea de uma parturiente... e do seu neném!

A bioquímica do sangue da parturiente e a bioquímica do sangue do neném estão intimamente envolvidas, e desde o início do trabalho de parto até mais ou menos uma hora depois do nascimento, essa bioquímica os torna extraordinariamente alertas e receptivos a tudo que lhes acontece. A presença desta composição bioquímica no corpo faz com que estes momentos fiquem para sempre fortemente gravados no subconsciente, assim como na memória celular da mãe e da criança.

Há uma história bem conhecida nos meios da ciência prenatal, do psiquiatra australiano Graham Farrant, que trabalhava dentro da linha da psicologia transpessoal (estreitamente vinculada ao renascimento ou ‘rebirthing’). Farrant mencionou a um amigo obstetra, que ele desejava assistir a um parto. O amigo então convidou Farrant para acompanhar um parto junto com ele no hospital onde trabalhava. A evolução do parto estava um pouco lenta, e o obstetra disse que iria precisar de um fórceps. Farrant ponderou se não valia a pena esperar mais um pouco. O obstetra concordou, mas alguns minutos depois, voltou a dizer que um fórceps seria necessário. Farrant de novo pediu que ele confiasse no ritmo do parto e o obstetra acabou se retirando da sala de parto sem dar explicações. Foi a parteira de plantão que auxiliou o parto, enquanto Farrant fazia as observações que desejava. Depois do nascimento da criança (correu tudo muito bem), Farrant foi conversar com o amigo na sala dos médicos; afinal é estranho um médico sair da sala durante um trabalho de parto. O amigo explicou que havia sentido uma fortíssima dor de cabeça. Farrant perguntou então se ele não tinha nascido de fórceps, e como o obstetra não sabia, Farrant sugeriu que ele verificasse este dado. A mãe do obstetra confirmou que ele havia nascido de fórceps... Esta simples história nos mostra o poder de uma ocorrência perinatal que permanece inconsciente e não é trabalhada. Durante anos, o obstetra optou com freqüência pelo uso de fórceps, fortemente influenciado pelo tipo de vivência do seu próprio nascimento. Diga-se de passagem que este médico provou ter uma mente bem aberta, pois não é nada comum um obstetra convidar um psiquiatra, terapeuta da linha transpessoal, para colher dados numa sala de parto.

Nossa espécie é mamífera, e como mamíferos, não deveríamos nos afastar tanto do modo de parir que a natureza desenhou para nós. Tanto o ato de parir como as horas subseqüentes ao parto tem conseqüências importantes para a mãe e para o ser que nasce. Um dos livros que cito na bibliografia desta palestra, é “Birth as an American Rite of Passage” (O Nascimento como Ritual de Passagem Americano) de Robbie Davis-Floyd, uma antropóloga do nascimento, professora na Universidade de Texas em Austin. Neste livro, vemos que a mulher e a criança recebem, durante o trabalho de parto e o parto, mensagens subliminares muito simples. Nos Estados Unidos, o parto domiciliar é muito raro, a tendência da mulher americana é a de acatar os mandamentos do médico e optar pelo parto hospitalar. Ao chegar no hospital, a parturiente é posta numa cadeira de rodas e a primeira mensagem que recebe é: “teu corpo não funciona bem, deixa que nós vamos tomar conta dele, confie em nós” (e não em você, no teu sentir, na tua intuição). Fica claro para a mulher que a filosofia vigente no hospital considera a cabeça separada do corpo. A parturiente fica eletronicamente ligada a várias máquinas durante horas, e o que ela capta é que não é capaz de parir sozinha, que seu corpo não está equipado para parir, que ela corre perigo e que sem o médico, as máquinas e a instituição, ela e a criança estariam perdidos. Quanta mensagem triste, fonte de ansiedade, angustia e desvalorização do seu próprio ser!

Vejamos bem, no hospital, o trabalho de parto e o parto ocorrem num lugar não tranqüilo, num território estranho à mulher, onde os cheiros não lhe são familiares, onde vários ruídos e sons a distraem, num lugar muitas vezes excessivamente frio e exageradamente iluminado. É o caso de repensar o tratamento que as parturientes recebem num hospital, e se o hospital como o conhecemos, é um local propício à fisiologia do trabalho de parto de um mamífero humano. É tão fácil perturbar uma parturiente: basta estimular seu neocórtex. Muitos trabalhos de parto acabam apresentando uma distócia, e isto explica a quantidade absurda de cesáreas no mundo ocidental. O obstetra e filósofo francês Michel Odent, explica muito bem este fenômeno no seu livro “O Camponês e a Parteira”: não devemos perturbar a mulher durante o trabalho de parto, diz ele, é necessário que ela esteja num ambiente bem tranqüilo, com cheiros e sons que lhe sejam familiares, na penumbra, sem roupa, aconchegada por uma temperatura agradável e sem se sentir observada. Estas são as condições propícias à fisiologia do ato de parir, pois elas permitem que o hipotálamo conduza harmoniosamente as diferentes fases do trabalho de parto. É esta parte bem antiga do cérebro humano que rege às complexas interações bioquímicas do trabalho de parto, e cada vez que o neocortex da parturiente é estimulado, as funções do hipotálamo ficam prejudicadas. Vivemos uma situação parecida cada vez que queremos adormecer: o que é melhor para que o sono chegue, muita luz, frio, barulho, alguém nos fotografando, uma enfermeira nos fazendo perguntas, pessoas entrando e saindo do nosso quarto... ou o contrário? Para parir, como para adormecer, é necessário que o nosso neocórtex esteja ‘desligado’, que nenhuma adrenalina o esteja estimulando.

E quando se separa a criança da mãe, para lavar porque ela nasce suja? Eu caí nesta, quando minha filha nasceu eu tinha uma banheirinha pronta para ela, perto da lareira com água numa temperatura ideal. Mas abracei a fofinha, percebi que ela tinha um delicioso cheiro de bala, um cheiro suave e açucarado, e resolvi não dar banho nela naquele momento. Ela nasceu com as mãos abertas, relaxadas, ao contrário da maioria das crianças que não nascem com este relaxamento; para elas o banho é certamente uma boa terapia... A água ajuda a ‘lavar’ tensões e estados negativos; mas quando estamos alegres, quando acabamos de meditar ou tivemos uma conversa maravilhosa, é bom deixar a chuveiro para depois.

Segundo um estudo feito em Cleveland por Anthony DeCasper, na primeira metade dos anos 80, com utilização de uma chupeta conectada a um computador (que mandava estímulos auditivos distintos segundo a duração das pausas na sucção), foi possível observar que os recém nascidos tem preferências quanto à voz do pai ou da mãe, histórias ouvidas durante a gestação ou não. Também foram observadas escolhas olfativas e visuais nos nenéns! Teve-se então certeza da memória das vivências intra-uterinas, e capacidade de escolha, ambas funções que envolvem elaborados procedimentos neocorticais. Finalmente tinham conseguido obter respostas de recém-natos, pois para estes sugar é conversar.

Ao dar uma aula em Washington, DC. para estudantes de Comunicação, falei sobre dois pontos: a comunicação da mãe para a criança, como já abordei aqui, e a comunicação que se dá da criança para a mãe. Sabemos que a gravidez traz um novo temário nos sonhos e nas fantasias das mulheres. Poderia dizer que tudo é comunicação, de célula para célula, de psiquismo para psiquismo, da sociedade para a gestante e vice versa.

Voltando ao parto hospitalar, muitas vezes o recém nascido é lavado e escovado debaixo da água da torneira, e depois colocado num berço de acrílico envolto num cobertorzinho de fibra sintética! No entanto (se o parto foi sem anestesia), durante a primeira hora de vida extra-uterina, a criança está programada para viver um estado de consciência alerta. Se ao invés de ficar nos braços da mãe, ela é entregue a um berçário, isto pode ser traduzido, mais tarde pelo seu subconsciente, por: “em momento de crise, seja um problema mais sério no trabalho, uma decepção amorosa ou uma situação que me faça sentir muito vulnerável, eu saio para comprar uma roupa de poliéster, um carro ou algo que me lembre o aconchego dos meus primeiros momentos”. Pela vida afora seguimos apegados a como fomos concebidos, como viemos ao mundo, e como fomos gestados.

Com relação à conexão de um feto com o psiquismo de sua mãe, assisti nos anos 80, um vídeo da organização americana “The March of Dimes”, no qual pediam a uma fumante grávida de sete meses, para fumar um cigarro (em vista da experiência ela tinha deixado de fumar a algumas horas). Ela estava eletronicamente monitorizada e era possível acompanhar o registro digital dos batimentos cardíacos do bebê. Bastou ela estender o braço para pegar seu isqueiro e o cigarro tão desejado, que os batimentos cardíacos do bebê acusaram uma forte aceleração... a mesma aceleração cardíaca que a nicotina do cigarro causava cada vez que a mãe fumava. Se a antecipação do ato de fumar um cigarro já pode produzir tal efeito, imaginem como outros sentimentos e pensamentos da mãe podem afetar um ser em gestação. O neném da experiência se apavorou e seus batimentos cardíacos aumentaram, porque num organismo ainda em formação, a nicotina e outras drogas, equivalem a uma dolorosa chicotada. A criança sofre uma perda de oxigênio sanguíneo, e outras alterações metabólicas que são penosas para ela. É importante entender que durante a gravidez a criança precisa se construir e não se proteger.

Quando Marcel Proust, grande novelista francês do inicio do século XX escreveu, sua obra famosa: “A la Recherche du Temps Perdu” (“À Procura do Tempo Perdido”), começou o primeiro tomo dizendo “Durante muitos anos eu me deitei cedo”..., e contou o momento de ir para cama aos oito anos de idade. Narrou em muitos parágrafos, sob o ponto de vista do menino que ele tinha sido, a maneira como a mãe lhe dizia boa noite. Isto gerou indignação entre os escritores franceses da época, pois eles não achavam de bom tom relatar o sentir e o pensar de uma criança. É digno de se notar que só agora o bebê está começando a ser importante na nossa sociedade ocidental. Quando minha mãe estava me esperando, na década de 50, em Nova York, só existiam três livros sobre parto e gestação nas prateleiras das livrarias. Quando minha avó estava grávida da minha mãe, nem se pensava em livros sobre gestação para o público leigo.

Até pouco tempo atrás, numa família com alto nível econômico e social, os nenéns eram amamentados por amas de leite, e babás tomavam conta das crianças, e sabemos que assim foi desde a antiguidade e em todos os continentes. Nem nas civilizações judaica e cristã, os nenéns ricos foram amamentados pelas suas mães! Podemos ver na nossa sociedade ocidental, que até hoje existe pouco prazer em amamentar, pouco conhecimento sobre o que é a amamentação. Nos Estados Unidos, a “LECHE LEAGUE”, foi criada por um grupo de mães indignadas que resolveram aprender tudo sobre a amamentação, já que os pediatras sabiam muito pouco sobre como amamentar, o que fazer em caso de mastite e outras ocorrências ligadas ao universo da amamentação. Nos anos 50, a amamentação estava realmente fora de moda; era o tempo em que se dava anestesia geral para a mulher não sofrer na hora do parto. A ciência tinha tido uma grande vitória e superado a advertência bíblica: “Parirás com dor”. A mulher que, apesar da descoberta do leite em pó, quisesse ainda imitar a vaca, tinha que ter cuidado de não “acostumar mal” seu filho, e dar de mamar bem regularmente de três em três horas. O número de casos de mães com abscesso no seio foi grande. Pois uma das piores maneiras de amamentar é regrar os horários, já que o leite materno muda de composição a cada instante, devido a uma comunicação especial entre o corpo da mãe e o da criança. Dar de mamar quando o neném pede é a melhor maneira de suprir o que ele necessita para seu desenvolvimento e crescimento. Aqui no Rio de Janeiro contamos com as “Amigas do Peito”, que há mais de vinte anos vem ajudando, de maneira linda, inúmeras mães a amamentar. As reuniões se dão nos jardins da PUC e da Casa de Rui Barbosa.

A antropologia e a etologia nos ensinam que existe muita semelhança entre o desenvolvimento do relacionamento mãe-filho nos clãs dos chimpanzés e nas sociedades humanas. É comum, por exemplo, ao longo do desenvolvimento de um neném, que antes de dar um ‘salto’ evolutivo, haja um momento de fragilidade, de aparente regressão. O mesmo ocorre com o filhote chimpanzé, e a boa mãe chimpanzé acolhe esta situação sabendo que seu filho precisa de mais aconchego naqueles dias. Os nenéns humanos são tomados em determinados momentos por uma maior necessidade de contato físico com a mãe, não querem se separar nem dez centímetros dela. E muitas vezes a mãe pensa que o filho regrediu, aliás, diga-se de passagem aplicar termos psicológicos para os fatos comuns da vida não ajuda muita coisa, e pode mesmo atrapalhar bastante. A criança está recuando para melhor saltar. Da maneira como a mãe, lida com esta necessidade que a criança tem do apoio dela, vai depender a qualidade do crescimento que está vindo. Quando isto é explicado para as mães, causa-lhes um grande alívio. O que acontece depois destes dias em que as crianças apresentaram este comportamento estranho, chorando mais do que de costume, por exemplo? Freqüentemente as mães relatam: cresceu quase três centímetros, ou “conseguiu fazer tal coisa”. Uma situação comum é febre alta aos dois anos de idade, quando ocorre o crescimento de dos molares. São momentos de desenvolvimento importante mas que a sociedade tende a ver como distúrbio. E isto porque, só se conhece doença, não se conhece saúde, pois esta inclui febre ainda que alta.

O choro do neném é importante para a estruturação do ego? O choro, é uma linguagem; é claro que existe o choro que serve para extravasar energia, e a mãe fica abraçadinha com a criança até passar, mas este choro é raro em recém-nascidos. Há uma espécie de comunicação telepática que é preciso ser cultivada, pela observação, a entrega e a escuta. A criança se expressa através da linguagem de seu corpo, e sinaliza seus desconfortos e necessidades, inclusive a fome. Mas é muito prazeroso para ela ver sua mãe providenciar o que lhe é necessário sem que ela precise chorar. Quando você evita que uma criança chore, você está comunicando, “estou aqui”, “posso te entender”. A criança vai assimilando desde o início que comunicação é possível e essencial, e que ela pode ser ouvida. A “mãe atenta” é aquela que percebe o que seu bebê quer sem que ele chegue a ter que chorar.

Temos que considerar o que vem acontecendo com as mães que trabalham e não tem tempo de ‘namorar’ seu neném. O retorno ao trabalho interrompe este tão precioso processo. Ao término da gravidez, o neném não está pronto como outros mamíferos ao nascer; é só com nove meses que uma criança alcança um nível de desenvolvimento motor comparável ao de um potrinho ou de um bezerro ao nascer. Pode-se dizer que a gestação humana dura nove meses intra-uterinos e nove meses extra-uterinos. As mulheres que têm o privilégio de poder ficar os nove primeiros meses junto dos seus filhos, se dedicando a eles, relatam ganhos enormes tanto para si, como para os bebês. A creche que muitos políticos pensam ser um grande avanço para a sociedade, é muitas vezes um lugar de sofrimento (privação) para as criancinhas. As mães também sofrem, conscientemente ou inconscientemente, visto que elas permanecem ligadas energeticamente aos seus filhos. É muito importante que nossa civilização valorize e proteja este tempo único da chegada de um novo ser humano sobre o planeta.

O cansaço físico pode ser grande para a mãe de um nenenzinho, mas vale mais a pena agüentar este cansaço do que a angústia causada por um adolescente que não recebeu o que precisava no tempo devido. A natureza não queima etapas. Há um tempo determinado para cuidar exaustivamente de uma criança, quando queremos que ela venha a amadurecer sadia. Ao descuidarmos disto, a dependência um dia virá, de um modo ou outro, transformando a vida da família num duro fardo por tempo indeterminado. Se precisar de ajuda, a mãe pode pedir auxílio para cuidar da casa, cozinhar uma boa refeição, mas não para tirar dela o contato com o bebê.

Graças a um movimento social que houve recentemente na Alemanha, a mulher, além de quatorze semanas remuneradas com salário integral, ganhou de um a dois anos de permanência autorizada junto aos seus filhos, em casa e continuando a receber um salário determinado. Isto é muito bom! Países de grande performance econômica como, por exemplo, Áustria, Dinamarca, Finlândia, França, Hungria, Portugal, Polônia, Nova Zelândia, Espanha, Suécia, Holanda, Luxemburgo e Itália, adotaram políticas de licença maternidade diferenciadas e resolveram investir em aporte financeiro para a mãe durante longos períodos.

Países como a Rússia e a Bulgária, que sofreram uma grande perda de sua mão de obra masculina com a morte de muitos de seus homens durante a segunda guerra mundial, instituíram a creche obrigatória para nenéns a partir de três semanas de idade, a fim de contar com o máximo de sua mão de obra feminina para a reconstrução de suas cidades e industrias. A geração criada deste modo apresentou uma importante incidência de delinqüência juvenil. Conheci em 1979, na Venezuela, uma engenheira búlgara cujo marido era diplomata e que estava recebendo durante três anos seu salário integral e ficando em casa com seu filho! Isto não ocorreu devido a um estudo científico, foi uma resposta ao sofrimento de uma nação inteira... Quem trabalha e tem filho pequeno, bem sabe que não é fácil chegar em casa depois de um dia de trabalho e ser uma mãe atenta, intuitiva, sábia, paciente e carinhosa.

As sociólogas já citadas, autoras de “Ghosts from the Nursery”, não relataram situações tão drásticas, apenas para denunciar algumas atrocidades da nossa sociedade; elas também mencionam as instituições que ajudam a prevenir semelhantes tragédias. Já existe em Seattle, no estado de Washington, creches onde os funcionários são treinados para identificar a criancinha cujo comportamento tende a desviar, cuja linguagem principal é por exemplo a linguagem do soco. Entre as crianças, há dois tipos de líderes: aquele que pede algo sorrindo e tombando gentilmente a cabeça para o lado (um gesto profundamente enraizado na etologia do nosso ser), usando um gestual que comunica ternura, e há aquele que agride e tenta pegar tudo para si na marra. Estes são chamados de “bullies” (brigões). Quando um “bully” (brigão) é identificado, a família dele é convocada, e juntos eles fazem uma terapia familiar. A pergunta essencial é: porque um comportamento tão violento, numa criança tão pequenininha? O cérebro é um órgão tão extraordinário que mesmo naquelas criancinhas cujo cérebro não foi suficientemente bem formado para processar uma frustração sem esmagar ninguém, a diferença depois de algumas semanas de terapia é notória. O cérebro pode se refazer, se ‘recircuitar’, tanto numa criança de dois a quatro anos, quanto num adulto. No entanto, é na primeira infância que o cérebro melhor consegue se refazer no que diz respeito à impulsividade e ao comportamento agressivo.

Qual o governo, que prefeito vai ser o primeiro a dizer “Vamos investir nas futuras gerações, presenteando nossas gestantes!” Cada cidade, cada bairro tem seus artistas, seus artesãos; alguns podem contribuir com umas horas semanais costurando e bordando, pintando, cantando, fazendo as gestantes cantarem, enfim realizando uma atividade artística com elas. A arte, o artesanato e a natureza presente em torno de todas elas. Fontes, riachos, bosques, jardins, bibliotecas, hortas e pomares. Tudo isto traria às mães uma oportunidade para esperarem seus filhos da melhor maneira possível, conscientes da importância de sua obra.

São muitos os perigos... vocês já imaginaram se todos os profissionais de saúde física e psíquica ligados à gestação fossem nestes centros e abrissem seus consultórios? Que lucro para o bolso dos que se beneficiam com o medo, a vaidade, a mania de competir! Mas que terrível. A gestação não é lugar de terapia, é bom lembrar que gestar é fisiológico. Não há fórmula para se gestar, a natureza não previu que uma gestante tenha um filho igual ao de uma outra. É na diversidade que a vida existe. Desde o início da criação deste planeta nenhum átomo é igual ao outro, nenhum floco de neve, nenhuma impressão digital. No entanto, olha como são feitas as maternidades! Cada trabalho de parto têm que evoluir segundo o mesmo padrão.

Claro que todos nós precisamos de lindos parques e de bibliotecas fabulosas, e muitos precisam até mesmo de cuidados básicos de sobrevivência, mas esta situação tem um que de viciosa: precisamos romper o ciclo e criar saídas. Consciência e generosidade são necessárias. Ao oferecer tais condições às gestantes, algo estará sendo feito para todos. Ah! se nós soubéssemos a nível político da importância do bem gestar para o futuro da humanidade! Sábios e filósofos já disseram, que se três gerações de pessoas forem concebidas e gestadas com consciência, plenitude e esta atenção que descrevi, haverá um salto de qualidade na espécie. Poderemos fechar as prisões, os hospitais psiquiátricos, e também as fronteiras, pois a violência não terá mais lugar no planeta.

Nem precisaremos enfrentar os problemas que enfrentamos hoje; por exemplo, a cultura da poluição deixaria de existir, com o advento de um ser humano não poluidor.

Faço questão de citar aqui, três autoras brasileiras que escreveram e escrevem sobre o tema do psiquismo fetal:

Inês Gomes Correia, que no início dos anos 90, fez uma tese de doutorado em comunicação pela UFRJ. Essa tese inclui uma pesquisa feita na Austrália, sobre como o feto reage às emoções da mãe. Pesquisa onde muitas mães grávidas tinham que assistir a um trecho do filme (“A Escolha de Sofia”). As mães recebiam o áudio via fones para que os nenéns não fossem diretamente expostos ao som do vídeo. Este filme contém imagens de situações desencadeadoras de grande angústia: num campo de concentração durante a segunda guerra mundial, a protagonista tem que escolher entre dois de seus filhos, aquele que poderá ter a vida salva. A monitorização dos batimentos cardíacos dos fetos detectou uma marcada aceleração cada vez que as mães se emocionavam em empatia com a atriz Meryl Streep.

A psicóloga Maria Tereza Maldonado, no início dos anos 80, na Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, já fazia grupos de reflexão com grávidas na sala de espera do ambulatório de obstetrícia. Ela é autora de vários livros e textos sobre a relação obstetra – gestante e o psiquismo do casal grávido. Um dos seus últimos livros é “As Sementes do Amor – Educar Crianças de Zero a Três Anos para a Paz”.

A psicanalista Joanna Wilheim, autora do livro “O que é Psicologia Pré-natal”, fundou em 1991, e dirige até hoje em São Paulo, a “Associação Brasileira para o Estudo do Psiquismo Pré & Perinatal” – ABREP.

Em junho de 2003, uma amiga minha, a psiquiatra analista junguiana Dra. Eleanor Madruga Luzes, obteve seu mestrado em Psicologia Clínica pela UFRJ. O titulo da tese é: “A Função Sentimento Como Fio Condutor Para A Ecologia Humana”.

Nessa dissertação de grande valor filosófico, Dra. Madruga Luzes, enuncia que a psicologia tem uma contribuição importante para ajudar a resolver os problemas que a humanidade enfrenta hoje em dia. Esta solução, seria o advento do homo sapiens sapiens frater, um ser humano dotado de saudável auto-estima e capaz de sentimento fraterno para com todos os seres do planeta. Tal ser poderá vir a habitar o planeta caso sejam amplamente divulgados os conhecimentos que temos hoje no que diz respeito à influência da gestação sobre a saúde física, emocional, mental e espiritual do ser humano. Ela também insiste na urgência das escolas incluírem em seus currículos para os adolescentes, esses conhecimentos que revelam o quanto somos tributários da maneira pela qual fomos desejados, concebidos e gestados… Este tipo de estudo no segundo grau, pode ajudar imensamente os jovens a compreender a responsabilidade que temos sobre o nosso corpo físico e sobre a nossa mente quando queremos um dia vir a ser pai, mãe ou educadores.

Esta palestra é para mim, uma atividade de cidadania planetária. Podemos falar de células, do cérebro e de muitos dados científicos a respeito do embrião e do feto, podemos falar noite adentro da ciência da vida intra-uterina e dos primórdios da consciência. Mas uma questão se impõe: - “O que fazer com todo este conhecimento?” Nestes últimos vinte anos, a ciência vem descobrindo e corroborando a importância da gestação, na formação do corpo físico e do psiquismo do adulto. Devemos refletir sobre o que podemos fazer para melhorar o universo da gestante ao nível da população municipal, nacional, e mundial. É também importante pensarmos nos adolescentes que estão cursando o segundo grau, pois é um momento ideal para abordar os temas relativos à ciência prenatal. De onde viemos, como fomos sonhados, desejados e concebidos, como foi nossa gestação e como nascemos, que tipo de acolhida tivemos em nossas famílias, qual era então o estado de espírito de nossa mãe e de nosso pai, etc. Essas indagações que fascinam os adolescentes.

O que os adolescentes sonham um dia oferecer para seus filhos é também um tema muito rico e que leva à noção de responsabilidade para com a saúde tanto mental quanto física que desejam transmitir quando chegar o tempo de procriar.

Quando uma mulher está grávida, já não é bem o melhor momento para ela ler livros sobre como gestar, visto que tentar assimilar muitas informações em cima da hora pode gerar ansiedade. Se aqueles que estão se preparando para conceber um filho pudessem aprender tudo o que precisam saber sobre concepção, gestação, parto, puerpério e amamentação, eles poderiam viver uma gestação, gestando e não se informando. A informação é, com certeza, algo importantíssimo, mas tem o seu momento.

Eu conheço um planeta
sobre o qual as nações vivem em paz,
onde a natureza é respeitada,
onde a ciência e a filosofia
nunca são usadas para escravizar,
limitar, ferir ou aterrorizar...
Lá, cada pessoa é concebida
e gestada conscientemente.

Nesse mundo reina
um verdadeiro espírito de fraternidade,
e as grávidas são tratadas de maneira muito especial:
os meios artísticos e artesanais de cada comunidade,
estão a disposição delas.
As gestantes passeiam
por lindos parques floridos,
admirando árvores, estátuas e fontes...

De dia, o cantar dos pássaros as abraça.
De noite, as estrelas
as convidam para visitar mundos distantes...
Nesses parques há várias casas
onde as mães podem tomar parte em muitas atividades:
cantar, tecer, esculpir, bordar, desenhar...
Existem também teatros, bibliotecas e cinemas,
e é possível estudar, ensinar, meditar, rir e chorar.

Nas escolas desse planeta,
os adolescentes estudam a importância
da concepção, da gravidez, do parto e da amamentação
para uma humanidade feliz.
Os casais caminham para o momento da fecundação,
com suas mentes esclarecidas,
sabendo das dimensões fisiológicas,
psicológicas e espirituais de uma gestação,
podendo assim acolher serenamente o mistério da vida.


Este artigo foi realizado a partir do curso: O PAPEL DA GESTAÇÃO NA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA SOCIAL, realizado para fundar o Núcleo da PAZ, dirigido por Eleanor Madruga Luzes da ONG PENSAMENTO ECOLÓGICO. Este curso foi ministrado por Laura Uplinger em co-autoria com Eleanor Madruga Luzes, em 23 de janeiro de 2003 no auditório da Pequena Cruzada.

Segue abaixo uma bibliografia recomendada, que embora esteja subdivida por áreas, é de leitura acessível a todos os interessados com uma formação de segundo grau, outros até, sem esta formação. Há também lista de sites passíveis de visita para aprofundamento no tema.


ANTROPOLOGIA

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Michel Odent publica trimestralmente um periódico Primal Health Research
Endereço: Primal Health Research Centre
72 Savernake Road, London NW3 2JR England.
e-mail: MOdent@aol.com
Banco de dados: www.birthworks.org/primalhealth

REHUNA – Rede Nacional pela Humanização do Nascimento
e-mail: mleite@matrix.com.br

VAUGHAN, Cristopher. How Life Begins – The Science of Life in the Womb – Christopher Vaughan. Editora Dell Trade Paperback


PSICOLOGIA PRÉ E PERINATAL
APPPAH (ASSOCIATION FOR PRE-AND PERINATAL PSYCHOLOGY AND HEALTH) - - PO - BOX 1398 – Forestville- California 95436-1398
Tel: (707) 8872838 e-mail: apppah@aol.com
e-mail: apppah@aol.com
www.birthpsychology.com

ABREP - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA ESTUDO DO PSIQUISMO PRE E PERINATAL.
e-mail: joannawilheim@uol.com.br


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Ver em especial artigo: Influence of Maternal Stress on Fetal Behavior and Brain Development (2001;79:168-171)
Centre de Recherches Biologiques Neonatales – Hôpital Port-Royal F–75674. Paris Cedex 14 França Tel: 331-58412151, fax 331-43290338
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LUMINARE-ROSEN, Carista. Parenting Begins Before Conception: A Guide to Preparing Body, Mind and Spirit – For You and Your Future Child – Carista Luminare-Rosen Rochester, Vermont: Healing Arts Press, 2000.
Carista Luminare-Rosen criou e dirige o Center for Creative Parenting – www.creativeparenting.com. Neste Centro casais participam inclusive de work-shops de preparação para concepção.


Contato com Laura Uplinger: e-mail: uplinger@ntlworld.com - Comunicação que pode ser feita em português, inglês, francês e espanhol.