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Publicações / Ecoambiental

O CÉU ESTÁ PERPLEXO
Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho – Set/2002

Às vezes chego a pensar se todas essas reuniões multilaterais não são nada mais do que oportunidade de trabalho para diplomata, que sentem prazer na eternização dos diálogos, como se a vida fosse um business game. Confúcio dizia que “na vida o que importa é o movimento, não seus resultados”. Talvez esse seja o princípio mais importante da era da civilização. Só que para os na filosofia oriental os movimentos são baseadas em fundamentos. Essa é a diferença entre orientais e ocidentais. Os primeiros preocupam-se com a fundamentação e a ação. Os ocidentais preocupam-se mais com a ação e seus resultados.

Quando não partimos de fundamentos sólidos acabamos nos perdendo nos movimentos e não conseguimos chegar a resultado algum, a não ser de continuam a prevalecer os interesses imediatistas dos detentores do poder na geopolítica internacional.

Se o homem tem prazer em discussões bizantinas sob a premissa que todas os seres orgânicos e inorgânicos estão ao seu dispor, como defendia Francis Bacon. A sensação de poder e domínio sobre tudo e todos, transcendendo a Terra. Já estamos chegando a Marte, Júpiter, Saturno. Em poucos anos, quem sabe inventamos uma tecnologia que nos permita chegar à velocidade da luz e ir assim além do sistema solar, com passageiros a bordo.

Enquanto isso, continuaremos a discutir Rio +5, Rio + 10, Rio+20, Estocolmo+30, Estocolmo+40, Johannesburg +10, Johannesburg+20, fóruns permanentes.

Em uma coisa, uma representante dos Estados Unidos tem razão, a Agenda 21 tem palavras demais comparadas às ações realizadas. Só que as poucas ações partem mais de seu país do que qualquer outro. E ainda querem condicionar ações imediatas quanto à preservação de nossa biodiversidade e florestas às suas ações na área de energias renováveis. Alegam que a Amazônia e o Matogrosso não estão no Texas e no IOWA.

É por isso que acredito que alguma coisa de bom vai acontecer nos próximos anos. Deus foi justo em não colocar a floresta amazônica nos Estados Unidos ou Europa, pois senão elas não existiriam mais. Só para lembrete, quem acabou com o Pau Brasil? Ainda não existiam brasileiros nesta época.

Devemos sim agir já para preservar nossa biodiversidade e nossas florestas e nosso clima, pois é tudo uma coisa só. A Terra é uma rede re relações, costuradas pela Teia da Vida, como chama Fritjof Capra. Não podemos colocar essas questões em termos de barganha. O caminho é um só: reconhecer a existência de um passivo ambiental e trabalhar para equilibrá-lo com ações ambientais ativas.

O céu está realmente perplexo com nossa arrogância em transformar o destino da Terra e sua rede de seres vivos e não vivos construídos em um processo de 4,5 bilhões de anos em um jogo diplomático de poder.

Continuo com sérias dúvidas quanto aos limites da paciência do céu e da terra. Até onde ela pode aguardar para nos dar uma lição que talvez custe o fim da raça humana na Terra. Se tudo isso não passa de um jogo, porque não apostamos quando acontecerá o fim do mundo? Essa pode ser uma aposta sem ganhadores, pois quando isso acontecer, os ganhadores não estarão vivos para receber o prêmio.

Se Johannesburg efetivamente fracassar, estaremos convictos de que os grandes ganhadores de todo esse processo de discussão terão sido, até agora, os segmentos de organização de eventos e empresas dos ramos lazer e turismo. Mesmo esses segmentos não se interessam por um meio ambiente em degradação. A ninguém interessa esse status quo, a não se a quem tem interesses mesquinhos. Esses grupos estão com certeza aportados em segmentos produtivos de visão pequena, onde seus interesses corporativos são mais importantes do que os interesses do ambiente onde estão inseridos.

Quanto ao Brasil, para falar a verdade, evoluímos muito. Há 25 anos, nossos generais se orgulhavam do milagre econômico brasileiro e convidavam todas as industrias mesmo que poluentes a contribuir para o seu crescimento. Temos agora uma das mais avançadas legislações ambientais do mundo. Só falta aplicar.

Os americanos têm razão, vamos agir mais e escrever menos. Que tal, eles começarem a rever seus padrões de consumo?

Eduardo Werneck, Economista da Pensamento Ecológico

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