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Mesa Redonda: Cenários para a oposição política nas eleições de 2012

Texto do pronunciamento de José Augusto Silveira / Pres. do PV da Cidade do Rio de Janeiro


Teatro João Theotônio / RJ
08-fev-2012


Gostaria de iniciar a minha fala fazendo a constatação de que para o cenário das eleições deste ano, os partidos políticos que se situam no campo da oposição em nossa cidade têm posições bastante heterogêneas nas suas visões políticas, encontrando portanto dificuldades na formulação de estratégias eleitorais que sejam comuns a todos para podermos disputar com eficiência a Prefeitura de nossa cidade.

Por outro lado, também acredito que esta constatação pode ser utilizada de modo positivo, pois agora estamos conscientes das nossas diferenças e devemos nos esforçar ao máximo para encontramos juntos pontos em comum e, assim, marcharmos unidos nesse processo eleitoral .
Para melhor estruturar o tema, vamos aqui conceituar o campo da oposição, constituindo-se de quatro principais grupos políticos: o primeiro deles, predominantemente ideológico; o segundo, baseado em experiências passadas no poder e em estilo já experimentado de gestão. O terceiro, de viés fortemente religioso. E o quarto, fundamentado principalmente no conceito de sustentabilidade ampla em todos os campos da atividade humana.

O primeiro grupo se caracteriza como o setor de oposição mais tradicional e é constituído primordialmente por razões puramente ideológicas. É a velha questão da direita versus esquerda, conceito bastante discutível já faz algum tempo. Este grupo faz parte de um espectro ideológico que varia em seus níveis de radicalidade, muitas vezes chegando, em casos extremos, a serem totalmente avessos ao sistema e tendo assim como objetivo a substituição do mesmo até pela via revolucionária. Como exemplo, poderia citar os Partidos situados mais radicalmente à esquerda ou à direita no cenário ideológico.

Essa posição ideológica mais extrema é bastante perigosa, pois não podemos esquecer que no século passado ela foi um fator importante na deflagração de guerras de amplitude mundial, e de totalitarismos como o nazismo, o fascismo e o comunismo, e mesmo em algumas democracias, as quais poderiam ser denominadas como democracias autoritárias.

Dentro desse primeiro grupo ideológico, encontramos um segmento com postura menos radical, fazendo no entanto críticas ainda contundentes – mas normalmente justas em relação ao sistema – e abertos à alguma possibilidade de negociação em pontos específicos da gestão pública.
Outro grupo, esse já menos ideológico e mais orientado pelos conceitos modernos de gestão, defende o retorno de esquemas políticos que já exerceram o poder anteriormente por acreditarem que esses obtiveram maior eficiência na condução da administração pública. Talvez poderíamos aqui citar o DEM no plano Municipal e o PSDB no plano Federal.

Na verdade, seria unânime para todos nós, a constatação da pouca eficiência do atual governo em relação à saúde no caso do mau atendimento nos hospitais municipais, bem como do aumento dos casos de dengue noticiado hoje mesmo no jornal “O Globo”.

Ainda, um terceiro grupo situado no campo da oposição é aquele que baseia sua estratégia e ação políticas, inclusive eleitoral, em aspectos fundamentalistas das crenças religiosas. Esse grupo, muitas vezes, tem dificuldades em assumir posturas políticas mais libertárias. Além disso, a escolha eleitoral (que deve ser baseada em princípios racionais) é substituída por uma decisão de voto baseada na orientação religiosa. Essa postura pode deslocar a responsabilidade da formulação das leis pelos representantes democraticamente eleitos (representando, portanto, a soberania popular) para leis demandadas por um poder religioso superior.

Muito preocupante, embora espere ser uma minoria (e até mesmo não citado entre os quatro principais por não pertencer ao processo político legítimo e sim o que consideramos como politicagem), temos um grupo que vou descrever apenas de passagem. Esse grupo não vê a conquista do governo a não ser para aproveitamento pessoal ou de segmentos que o apóia. Ele representa o fim da política como meio para alcançar o bem comum público e significa a vitória do hiper-individualismo e o fracasso da ética (e que estão infelizmente já difundidos em quase todas as atividades da sociedade).

Antes de passarmos para o último grupo político situado no campo da oposição, gostaria de comentar brevemente alguns fatos ocorridos recentemente.

O primeiro diz respeito ao desabamento de três edifícios no centro da cidade acontecido há poucos dias atrás causando uma sensação de pânico e impotência entre todos nós. Evidencia-se nesse episódio a negligência do poder público no não cumprimento de sua responsabilidade de fiscalização das obras nas edificações privadas e, talvez, até mesmo das públicas de nossa cidade. Outro aspecto curioso é a priorização da rápida higienização do local, agilmente removendo os entulhos para lixões – ainda contendo até mesmo corpos ou seus fragmentos – sem o empenho maior de removê-los ainda no local, desrespeitando a dor das famílias envolvidas na catástrofe. Ao passar por esse local poucas horas depois, já o encontramos fora de vista dos transeuntes, isolado por um tapume bastante estético e de cor branca, dando a impressão não mais de tragédia, mas de uma nova área da cidade a ser reconstruída ou revitalizada. O esquecimento do triste episódio é ainda favorecido pelo movimento dos blocos carnavalescos do final de semana que praticamente enterraram os mortos não encontrados no local.

Outro episódio bastante representativo do uso e do abuso da privatização do público ou de como o setor público se relaciona com o privado foi a tragédia ocorrida, há poucos meses atrás, na queda de um helicóptero de uma empresa privada que transportaria um político carioca, em que eram evidentes as relações de comprometimento empresarial entre o Governo e os proprietários da aeronave. Essa recente situação traduz conduta certamente não ética na relação entre gestor público e a participação de empresas do setor privado.

Ao terceiro episódio, vamos chamar de “o caso dos helicópteros”. Os moradores das regiões da faixa situada entre as margens da Lagoa Rodrigo de Freitas e o Cristo Redentor (bairros de Humaitá, Jardim Botânico e Lagoa) se uniram para protestar contra o uso abusivo de helicópteros utilizados no setor de turismo para visitação do Monumento do Cristo Redentor, que inegavelmente é um cartão postal da cidade, mas produzindo um barulho constante e infernal que alcança mais de 180 decibéis, acima, portanto, dos limites definidos legalmente para ruídos urbanos. Então, os residentes na região reuniram-se em frente ao heliporto para protestar quanto à localização do mesmo, que segundo os envolvidos ocupa irregularmente a área, e pedir uma regulamentação mais justa e que leve em conta não só os interesses empresariais, mas também os dos moradores da área afetada.

Esse fato retrata muito bem que a estratégia de gestão do Governo para a cidade não tem mais como prioridade o bem estar, o conforto e a segurança de seus moradores, e, sim, como um fator de empreendimento que possa gerar grandes lucros para o esse Governo e para um número restrito de grandes empresários. Precisamos urgentemente equilibrar os interesses de moradores da cidade, nos quais me incluo, e as ações do Governo no nosso dia-a-dia. Nossos interesses são apenas lembrados no período eleitoral através das peças publicitárias e do marketing político altamente sofisticados e caros, que na maior parte das vezes servem apenas para escamotear verdades ou prometer coisas que não serão cumpridas ou cumpridas de uma maneira enviesada, sendo muitas vezes mais benéficas para os grupos empresariais – que não raro contribuem para os financiamentos de campanha – do que para a maioria dos cidadãos comuns.


Por fim, encontramos o quarto grupo formado por aqueles (nos quais o PV se encontra) em que se percebe a insatisfação diante dessa realidade, principalmente pela falta da ética na política e da não preocupação por parte do Governo das reais necessidades e interesses dos cidadãos. Percebemos claramente a existência de um novo momento do mundo da política, momento esse que exige novas posturas para se ter sucesso em nossas ações.

Precisamos de inteligência, criatividade e sensibilidade para que nossas propostas sejam condizentes com a realidade do mundo que se descortina nesse nosso novo século, usando de maneira eficiente as novas tecnologias, mas sem nos esquecermos dos fundamentos do humanismo conquistados duramente ao longo da história de nossa civilização.

Temos, também, de aceitar a realidade expressa na globalização, de uma maneira mais crítica, estimulando os fluxos de comunicação de uma forma ampla, mais transparente, difundindo para o mundo as verdades, não as simplesmente de conveniência de grupos, de regiões ou de países específicos. É importante também termos como base o paradigma da cooperação, muito mais do que o da competição, pois como estamos sentido na carne atualmente, a competição extrema não leva a vencedores a médio e longo prazo, mas sim a uma quantidade expressiva de perdedores. Temos como exemplo o fluxo de capital volátil e improdutivo circulando por todo o mundo, e a questão das mudanças climáticas cada vez mais distante de uma solução adequada , justa e sustentável para o nosso planeta.

E, finalmente, acreditamos no conceito de sustentabilidade. Não uma sustentabilidade restrita, convencional e desgastada pelo seu freqüente mau uso, mas sim por uma sustentabilidade ampla, a mais abrangente possível, mais participativa possível, a mais sincera possível, uma sustentabilidade radical para todos e, principalmente, para os políticos que desejam atuar como vanguarda nesses novos tempos.

É essa radicalidade de uma política sustentável e democrática o que o mundo, as cidades e os eleitores da cidade do Rio de Janeiro necessitam e querem. Cabe a nós, políticos, que escolhemos essa atividade tão importante e digna de representar a sociedade, implementar com a maior rapidez possível essa nova visão de mundo e da política e, como disse um famoso político brasileiro, antes que seja tarde demais.

Termino aqui minha fala, citando um pensamento com certeza já conhecido por todos nós: “A política é a mais nobre das vocações e, pode ser, se não tivermos cuidado e ética, a mais desprezível das profissões”.

Saudações Verdes para um Planeta Verde e uma Cidade do Rio de Janeiro Verde

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