Por Alvaro Nassaralla
O mundo não é mais visto como uma máquina conforme o paradigma cartesiano. Nós descobrimos que a realidade material é uma rede inseparável (indivisível) de elementos.
A visão do corpo humano como mente separada do restante foi ultrapassada e indica que estamos tomando outras direções.Todas as células do corpo formam um sistema cognitivo, integrado.
A evolução não é mais vista como uma competição e, sim, como uma dança e a emergência contínua de novas estruturas.
Uma nova ciência qualitativa vem emergindo novamente. Um dos insights mais importantes dessa nova compreensão da vida é o entendimento das redes: onde se vê vida se vê redes. Uma vez que uma rede é um padrão de conhecimentos, devemos aprender a pensar em termos de relacionamento, que é o pensamento sistêmico.
Em termos de métricas, não podemos medir os relacionamentos, mas mapeá-los; então, temos de passar da mensuração para o mapeamento, da quantidade para a qualidade.
O mapeamento de relacionamentos (em rede) irá levar a padrões, por exemplo, ciclos, etc, sistemas não-lineares.
Nenhum organismo consegue viver isoladamente
A natureza sustenta a vida criando e provendo as comunidades. Nenhum organismo consegue viver isoladamente: tanto os animais quanto as plantas e os microorganismos. A sustentabilidade não é uma propriedade individual, mas uma propriedade de toda uma rede de relacionamentos.
Esta rede de vida não-linear contém circuitos de retroalimentação através dos quais o planeta se regula. O crescimento em um ecossistema não é linear, ele se retroalimenta com seus movimentos naturais. Para tanto, precisa da diversidade.
A diversidade vai assegurar a resiliência: quando mais diverso, mais adaptado e mais resiliente o ambiente será.
A forma de sustentar o que existe será adotar um processo de co-evolução, não estático, em movimento.
Alfabetização ecológica (Eco-literacy)
A alfabetização ecológica (Eco-literacy) deve se tornar uma pedra angular para a educação em todos os níveis, e como um princípio para nossos líderes empresariais e políticos.
À medida que as manifestações de nossa crise ambiental global se tornam cada vez mais pronunciadas, pensar sistematicamente - em termos de relações, padrões e processos - será uma habilidade crítica para educadores, políticos, líderes empresariais e profissionais em todas as esferas.
O dilema fundamental subjacente a todos os problemas de sustentabilidade está na crença irracional do crescimento perpétuo, o qual é sutentado pelos economistas. (Nota minha: algo como os alquimistas que buscavam descobrir como fazer ouro).
Tudo isso é alimentado pelo materialismo e pela ganância. Os economistas se recusam a colocar o custo ambiental em suas mercadorias. Se o preço da gasolina tivesse de incluir os danos ambientais e os gastos militares no Afeganistão e Iraque, que estão diretamente relacionados a obtenção do petróleo, o preço da gasolina seria 50 dólares o barril ao invés de 5.
A ética está ausente da economia global. Essa dinâmica fatal está cada vez mais sendo reconhecida.
Um
Paper está sendo preparado para
Rio+20 por dezoito cientistas premiados, incluindo
Hazel Henderson. O
Paper diz que o mito do crescimento perpetua e propaga a falácia de que esse crescimento indiscriminado é a cura para todos os males. Mas na verdade ele é o câncer para todos os desafios globais que estamos encontrando.
Crescimento bom e crescimento ruim
Os indicadores econômicos devem incluir todos os custos socioambientais.
A superexpansão de serviços financeiros tem sido um parasita na economia real. Esses serviços não são para atender as pessoas, mas para atender a uma ganância infinita das empresas do setor financeiro.
Estamos dentro de uma economia materialista e de grande desperdício, exacerbada por descartes de resíduos não recicláveis. Como podemos entrar numa economia de regeneração, de crescimento qualitativo? Isso inclui, um aumento de complexidade, maturidade e sofisticação do pensamento humano.
O qualitativo é uma propriedade de um processo sistêmico e devemos criar uma coleção de indicadores econômicos como probreza, fome, doenças, etc.
O crescimento bom inclui a produção e descarte sustentáveis e o crescimento interno do aprendizado e da maturidade das pessoas e da coletividade. Também devemos considerar as emissões zeradas e restauração dos ecossitemas destruídos.
Mais detalhes no artigo
Qualitative Growth: A conceptual framework for finding solutions to our current crisis that are economically sound, ecologically sustainable, and socially just .
Algumas ideias de indicadores para uma cidade ou país
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Pegada ecológica – É a quantidade de terra produtiva para atender as necessidades de uma pessoa e atender também seus descartes. A pegada média mundial é de aproxidamadanete 3 hectares por pessoa. No Brasil é 3, nos EUA é 8. Mas a capacidade da Terra é de 2 hectares por pessoa (Mais detalhes ver: ONG
Global Footprint Network).
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Transition Town Moviment – Transição de uma economia baseada em combustíveis fósseis para não-fósseis. Rob Hopkins, no livro The Transition Handbook, diz que se pode medir se uma cidade está em transição pelo percentual do comércio local que se dá na moeda local, quantos empregos são ocupados pelos residentes locais, quantos negócios locais são geridos por pessoas locais, etc.
Mais detalhes:
The Transition Handbook: from oil dependency to local resilience -
Rob Hopkins
Como se fazer a alfabetição ecológica? (Eco-literacy)
Na prática, pode ser feita de muitas formas diferentes. Escrevemos dois livros chamados: Educação Ecológica, já traduzido para o Brasil, e o outro será piblicado e é destinado a graduação universitária que se chama A visão sistêmica da vida.
Nos EUA, a
Second Nation ensina como se ensinar educação ecológica.
Sustentabilidade e produtos
Antes de melhorar todos os processos produtivos e torná-los absolutamente sustentáveis, é preciso pensar se precisamos de fato desse produto em questão. Por exemplo, em São Paulo o carro não vai aumentar a mobilidade das pessoas. Um empresa de carros deve se ver como uma empresa de mobilidade e ver como as pessoas podem se deslocar de maneiras mais ecológicas, como eles podem trabalhar mais próximas de suas residências, etc. Esse deve ser o negócio das montadoras.
A passagem para as tecnologias de Eco-design também vai dar emprego para muitas pessoas.
Como podemos transformar o pensamento competitivo em cooperativo?
A comunidade é um fator da maior importância para essas questões. Para criar uma comunidade é preciso tratar os relacionametno dentro desse sistema. O crescimento econômico desenfreado se vê mantido e imposto através da persuasão e convencimento da propaganda. Podemos aprender a encontrar a felicidade não no consumo e, sim, nos relacionamentos comunitários. É nessa área que o Brasil poderia ser líder mundial. O brasileiro tem um afeto muito grande pelos relacionamentos.
O que os líderes precisam aprender para fazer essa transformação?
Quero destacar dois tipos de poder diferentes: o primeiro é de dominar as pessoas e esse é praticado através da hierarquia. Mas há um segunda forma de poder que é a capacidade de empoderar as pessoas, conectando-as em uma rede associada a você. Então, você não precisa dizer o que as pessoas têm de fazer mas, sim, transferir poder para elas.
Devemos mostrar aos líderes que eles estão vivendo em um mundo conectado em redes, redes globais, e não tem como fugir disso se você quiser continuar tendo sucesso em suas atividades.
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Fritjof Capra é autor de cinco best-sellers internacionais, O Tao da Física (1975), O Ponto de Mutação (1982), Sabedoria Incomum (1988), A Teia da Vida (1996) e As Conexões Ocultas (2002). Ele é co-autor de Política Verde (1984), Pertencente ao Universo (1991), e EcoManagement (1993). Seu livro mais recente é A Ciência de Leonardo Da Vinci (2007).